Fonte: BE News
Frederico Bussinger falou sobre esse e outros temas em programa de rádio nesta quinta-feira
O engenheiro, economista e consultor portuário Frederico Bussinger avaliou nesta quinta-feira (4), em entrevista ao programa Orla Notícias, do Jornal da Orla, os riscos da proposta de concessão do canal de navegação do Porto de Santos e comentou como o túnel Santos – Guarujá pode beneficiar a mobilidade urbana e o porto.
Segundo Bussinger, a nova ligação seca entre as cidades é mais voltada à mobilidade metropolitana, mas “o grande benefício para o porto está na água”. “Ao reduzir o tráfego de balsas, o túnel melhora as condições de acesso aos terminais e apoia projetos futuros, como o Tecon Santos 10.”
O túnel, estimado em R$ 6,8 bilhões, terá concessão de 30 anos e será leiloado nesta sexta-feira (5), em São Paulo, em operação conjunta entre a União, por meio da Autoridade Portuária de Santos (APS), e o governo estadual. A obra permitirá integrar as duas margens do Porto de Santos e reduzir o tráfego de balsas, que, segundo a APS, atualmente é o mais movimentado do mundo, com cerca de 27 mil veículos/dia.
Apesar do avanço da infraestrutura, Bussinger alerta que a concessão do canal do Porto de Santos, com leilão previsto ainda para este ano, exige cautela. “Em Paranaguá, o que está sendo concedido é a hidrovia de acesso ao porto. Essa situação não se repete em Santos. Aqui, os terminais estão imbricados no canal, não são independentes. Conceder o canal significaria ter duas autoridades sobre a mesma infraestrutura essencial”, afirmou.
O especialista ressaltou que a concentração de decisões estratégicas em Brasília compromete a eficiência do porto. “A chamada autoridade portuária virou uma zeladoria. O modelo landlord, que funciona na maioria dos portos relevantes do mundo, pressupõe autonomia local. Quando tivemos mais liberdade, nos anos 1990 e início dos anos 2000, os portos brasileiros avançaram em produtividade, investimentos e competitividade.”
Bussinger vê na mudança da legislação do setor portuário brasileiro, o PL 733, em tramitação no Congresso, uma oportunidade de corrigir essa centralização. “Não se trata apenas de delegar competências, mas de garantir autoridade própria para a gestão portuária. Sem isso, decisões importantes ficam travadas, prejudicando o setor.”
Na entrevista, o especialista também comentou o processo de arrendamento do Tecon Santos 10, maior área de leilão prevista no porto. Ele apontou lacunas na conexão ferroviária, que dependem de coordenação entre arrendatário, poder público e concessionário ferroviário, contrariando a política de ampliar o transporte ferroviário. “Isso deveria estar previsto como obrigação não só do arrendatário, mas também do poder público e do concessionário ferroviário”, afirmou.
Além disso, Bussinger destacou ainda a importância de alternativas logísticas, como o Porto de São Sebastião, que pode funcionar como hub de distribuição sem sobrecarregar o sistema viário da Baixada Santista. “São Sebastião não é complemento de Santos, é uma alternativa logística para o estado de São Paulo. Ele pode atender com eficiência o Vale do Paraíba e o interior, redistribuindo cargas sem passar por áreas já saturadas.”