Fonte: A Tribuna On-line
Porém, especialistas creem que o conflito pode gerar alta de preços em petróleo e fertilizantes
Dois dias após o ataque do grupo extremista Hamas à Faixa de Gaza, deflagrado no sábado, as trocas comerciais entre Brasil e Israel ainda não foram afetadas. Os portos israelenses permanecem abertos, mas a participação do país na corrente de comércio brasileira é relativamente pequena e representou 0,37% nos primeiros nove meses do ano, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. No entanto, especialistas ouvidos por A Tribuna analisam que poderá haver alta de preços do petróleo e de fertilizantes.
De acordo com a Secex, as exportações do Brasil para Israel entre janeiro e setembro somaram US$ 570 milhões, enquanto as importações alcançaram US$ 1,068 bilhão. Com isso, a corrente de comércio atingiu US$ 1,638 bilhão.
O advogado e doutor em Direito Econômico, Emanuel Pessoa, afirmou que “a princípio, a corrente de comércio não deve ser afetada” até porque o país do Oriente Médio vem reduzindo as compras nacionais. “Em 2023, já houve uma forte queda nas exportações para Israel em relação a 2022, de mais de 50%. A participação é modesta, sendo algo na ordem de 0,37% da nossa corrente de comércio até este mês. Ano passado, importamos US$ 2 bilhões e exportamos US$ 1,9 bilhão para Israel. Este ano, os números de exportação sofreram queda de mais de 60%”, afirmou.
Sem abalos
Pessoa apontou que o Brasil exporta para Israel, principalmente, óleos de petróleo e de minerais betuminosos, seguido de proteína animal e soja. “Por sua vez, o que mais importamos de lá são fertilizantes químicos e outros produtos usados no cultivo, como herbicidas. O fechamento de portos israelenses não deve afetar severamente o Brasil, já que a maior parte dos nossos fertilizantes importados vem da Rússia e da Bielorrússia”.
O especialista comentou ainda que “recentemente, Israel abriu o mercado de frango para exportações brasileiras, que podem se ver privadas dessa abertura, no curto prazo, se os portos fecharem. Contudo, o grosso das exportações de Israel estão em produtos de alto valor agregado, como máquinas, softwares, diamantes e produtos químicos. Embora Israel exporte laranja e algodão, produtos nos quais compete com o Brasil, o nosso volume é muito maior e os ganhos não seriam tão significativos em termos relativos”.
O economista e doutor em Relações Internacionais, Igor Lucena, compartilha da mesma análise. “Muitos dos produtos que vão para Israel às vezes são renegociados e enviados à Faixa de Gaza, por meio de empresas que compram do Brasil e revendem. Pode haver diminuição, mas não acredito que seja significativa”.
Lucena estimou que o conflito em Israel poderá impulsionar as exportações brasileiras de petróleo e derivados. “Como a máquina de guerra vai funcionar muito forte, e nós exportamos mais de US$ 1 bilhão em petróleo e derivados para Israel em 2022, isso pode até aumentar apesar das dificuldades”.
Proteína
O economista calcula também que haja possível redução na compra de proteína animal do Brasil. “Já a carne, que nós exportamos cerca de US$ 250 milhões no ano passado, pode diminuir um pouco por causa das sanções e do cerco à região de Gaza”.
No entanto, o especialista afirmou que se os portos israelenses forem fechados, a preocupação maior será com fertilizantes. “Nós compramos mais de US$ 1,2 bilhão em fertilizantes que são mais importantes para a nossa produção agrícola do que de fato para a nossa balança comercial”.
Lucena observou ainda que poderá haver uma retenção nas exportações de produtos químicos e plástico por Israel. “Nós importamos mais de US$ 300 milhões em produtos químicos, US$ 150 milhões em plásticos e produtos orgânicos. Esses produtos podem ter algum impacto na cadeia produtiva, pois podem ser retidos por Israel para abastecimento interno, principalmente nas áreas química, de plásticos e de reconstrução”, afirmou.
Agronegócio
O advogado, mestre em Direito Marítimo e especialista em logística, comércio internacional e agronegócio, Larry Carvalho, avalia que as consequências da guerra podem levar algum tempo para serem percebidas no comércio global, mas poderão se tornar mais graves, caso o conflito se espalhe.
“Especialmente ao Irã, que é ao mesmo tempo um importante produtor de petróleo e apoiador do Hamas”. O especialista destacou que a maior preocupação ao Brasil seria o impacto ao agronegócio, principalmente a partir da dependência do Brasil a fertilizantes – os preços já foram impactados com o conflito entre Rússia e Ucrânia. “Hoje, o preço continua aproximadamente 50% acima do nível pré-conflito”.