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Incêndios 'forçam' usinas a ajustar produção de açúcar

Fonte: Valor Econômico
 
 
A ocorrência de cinco incêndios de grandes dimensões em terminais de açúcar em pouco mais de um ano deve desencadear uma mudança nos teores de umidade e granulometria (peso de grão) da commodity produzida nas usinas do Centro-Sul. Mais "seco e fino", o produto brasileiro, ao ser movimentado em grandes volumes, gera uma "nuvem" maior de pó de açúcar que eleva o risco de incêndios em ambientes de baixa umidade do ar e motores ligados a todo vapor. Desde junho de 2013, pelo menos 320 mil toneladas de açúcar foram queimadas em armazéns de São Paulo e do Paraná em virtude desses incidentes.
 
A temporada de sinistros foi aberta por um terminal rodoferroviário em Sarandi (PR), de propriedade da CPA Trading, a maior do Paraná. Em junho do ano passado, um armazém da empresa pegou fogo destruindo cerca de 50 mil toneladas de açúcar. Dali em diante, outros quatro incêndios afetaram o setor. O maior deles, ocorrido quatro meses depois, acometeu o terminal portuário da Copersucar, em Santos (SP), onde 180 mil toneladas da commodity viraram caramelo. Uma semana depois, um sinistro semelhante afetou o terminal da operadora logística Agrovia em Santa Adélia (SP), onde foram perdidas mais de 25 mil toneladas.
 
Neste ano, os acidentes voltaram a acontecer. Em agosto, a "vítima" foi o terminal da Rumo, empresa controlada pela Cosan Logística, em Santos. Um incêndio colocou em chamas 15 mil toneladas da commodity. Nesta segunda-feira (20), o armazém 3 do Terminal Exportador de Açúcar do Guarujá (Teag), com 50 mil toneladas, foi totalmente destruído.
 
Perícia feita pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT/USP) no terminal da Copersucar constatou que a hipótese mais provável é a de que o sinistro foi causado por uma fagulha vinda de um dos motores das esteiras que carregam o produto no armazém. O ambiente fechado e seco, saturado de pó de açúcar, foi altamente propício para o incêndio, explica o presidente da Copersucar, Paulo Roberto de Souza.
 
O executivo acredita que a tendência é que as usinas tenham que mudar os níveis de umidade e polarização do açúcar, possivelmente, já para a próxima safra. Além do açúcar VHP (Very Hig Polarization), algumas usinas sócias da Copersucar também produzem o VVHP (Very Very High Polarization), ainda mais "leve" do que o primeiro.
 
Por ser de melhor qualidade do que o açúcar demerara (que tem cor mais escura, menor granulometria e mais umidade), o VHP e VVHP recebem prêmios sobre a cotação da commodity (demerara) em Nova York. "No caso do VHP, esse prêmio é de 4%", diz o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues. Questionado se essas mudanças podem mudar os patamares de prêmio ao açúcar brasileiro, Rodrigues afirma que trata-se de algo novo e que o mercado vai ter que "rediscutir". "É preciso criar um padrão de granulometria, que hoje não existe", diz o executivo da Unica.
 
Na avaliação de Rodrigues, as usinas terão que fazer algum investimento para implementar essas mudanças. "Já há fábricas que estão adicionando água ou mel residual para elevar a umidade", cita Rodrigues. Ele acrescenta que a medida deve ser tomada para minimizar o inevitável, que o elevado volume movimentado de açúcar pelo Brasil, que é o maior exportador da commodity no mundo. Em dez anos, os embarques no país saíram de 15 milhões para 27 milhões de toneladas. "exportados anualmente. "A grande movimentação eleva muito a quantidade levantada de pó nos armazéns", diz.
 
Na CPA Trading, diz o presidente da companhia, Dagoberto Delmar Pinto, já houve mudança de regras para minimizar riscos de incêndios. Com nove grupos sucroalcooleiros de quatro Estados (PR, SP, MS e MT) em seu capital, a companhia discutiu com as usinas das quais origina açúcar e definiu conjuntamente que o produto com menos de 12% de umidade oferece riscos. "Até então, o açúcar chegava nos terminais com teor de umidade bem abaixo disso", resume Delmar Pinto.
 
As operações do Teag, operado conjuntamente pela americana Cargill e a sucroalcooleira Biosev, controlada pela francesa Louis Dreyfus, foram suspensas nesta segunda-feira (20), o que gerou o cancelamento do carregamento de açúcar de três navios que atracariam nos próximos dias.
 

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