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Benefícios com segundas intenções

Fonte: NYT / O Estado de S. Paulo

Para especialistas, mimos oferecidos aos funcionários são também uma estratégia das empresas para deixá-los mais tempo no trabalho

 
Hoje, para muitos empregados, os únicos benefícios extras que podem esperar da empresa são um plano de saúde decente e uma máquina de café que funcione. Mas há quem desfrute de refeições ou sanduíches gratuitos de qualidade, além de academias de ginástica no próprio local de trabalho, nutricionistas, faxineiros e até um quarto para uma pequena sesta.
 
Aumentando a aposta no que tem sido qualificado como uma escalada armamentista dos privilégios concedidos aos empregados estão o tempo de férias ilimitado para alguns funcionários concedido por empresas como Virgin, Netflix e Ladders, enquanto neste ano o Facebook anunciou que vai reembolsar suas funcionárias em até US$ 20 mil para congelarem seus óvulos. A Apple deve seguir o exemplo em janeiro.
 
Mais comumente, os “benefícios adicionais” oferecidos incluem licença paternidade e maternidade paga, creche no local de trabalho, horas de trabalho flexíveis e planos de saúde 100% pagos. Muitos desses incentivos existem na área da tecnologia ou em setores onde a competição é grande para atrair trabalhadores especializados. Mas segundo alguns, mesmo nestes setores, há poucas evidências de que eles motivam os empregados e podem servir para objetivos mais perversos, como garantir que o funcionário raramente deixe o local de trabalho.
 
“No resto do país as pessoas observam os benefícios concedidos no Vale do Silício e pensam ‘que empresas formidáveis para se trabalhar’”, disse Gerald Ledford, pesquisador sênior do Center for Effective Organizations da Marshall School of Business (Universidade do sul da Califórnia).
 
Segundo ele, deve-se lembrar que “estes benefícios não estão sendo oferecidos a título de generosidade, mas porque as organizações querem que o funcionário trabalhe 24 horas sete dias por semana. Se você jamais necessita sair para levar sua roupa ao tintureiro, ir à academia, comer ou até dormir, pode trabalhar o tempo todo. São algemas de ouro”.
 
As companhias, do seu lado, declaram que os benefícios oferecidos têm por único objetivo tornar mais fácil e controlada a vida dos seus empregados.
 
A SAS, empresa de software que emprega sete mil pessoas e tem sede em Cary, Carolina do Norte, ocupou o segundo lugar na lista de 2014 da revista Fortune das melhores companhias para trabalhar nos Estados Unidos, logo depois do Google.
 
A SAS oferece personal trainers grátis para os funcionários em seu centro de fitness dentro da empresa, piscina coberta, salão de cabeleireiro, ambulatório médico e orientadores com quem o empregado pode discutir sua vida profissional.
 
Os benefícios e a cultura como um todo ajudam a “minimizar o estresse que afeta os empregados diariamente”, disse Jenn Mann, porta-voz da empresa. “Queremos que nossos funcionários estejam presentes no primeiro dia de aula do filho ou possam levar um parente idoso ao médico.”
 
Funciona?
 
Mas será que tais benefícios oferecem aquilo que se espera, ou seja, atrair, reter e motivar os empregados? Para Ledford, não há muita pesquisa neste campo, mas embora os benefícios adicionais possam atrair, e até ajudam a reter o empregado na empresa, não parece que motivam as pessoas.
 
Na verdade, a pequena pesquisa feita mostra que os trabalhadores altamente competitivos estão mais interessados em prêmios individuais de desempenho do que em “bondades” oferecidas para todos. “As empresas podem ser muito mais inteligentes na maneira como despendem os dólares usados nos benefícios”, conclui Ledford.
 

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