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Sindicato quer apuração de cansaço relatado por piloto de Campos

Fonte: G1 / SP



O Sindicato Nacional do Aeronautas (SNA) quer que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apure se o cansaço relatado pelo piloto Marcos Martins  na internet pode ter sido uma das causas do acidente ocorrido com o avião que caiu em Santos na quarta-feira (13).
 
A queda do jato Cessna 560 XL matou o candidato à presidência Eduardo Campos (PSB), piloto e co-piloto e quatro membros da campanha do presidenciável. Ao todo, sete pessoas morreram.
 
O sindicato informou que irá encaminhar ao órgão da Aeronáutica o texto que Martins postou no Facebook se dizendo “Cansadaço”, cinco dias antes do acidente com a aeronave.
 
“Ainda não sabemos se os pilotos que morreram estavam trabalhando acima dos limites”, afirmou ao G1, Rodrigo Spader, diretor da Secretaria de Regulamentação e Convenção Coletiva do Sindicato Nacional do Aeronautas (SNA).
 
Em 8 de agosto, Martins escreveu no seu perfil na web: "Cansadaço, voar voar e voar . E amanhã tem mais". O comandante tinha perfil ativo na rede social e fazia comentários com frequência sobre sua rotina e viagens.
 
Nos últimos meses, Martins também compartilhou fotos das viagens que fez como piloto do presidenciável Campos, relatou saudades da família e, em diversas publicações, lamentou, em inglês, a jornada de trabalho. “Working hard”, escreveu nos dias 1º e 5 de agosto.
 
Carga de trabalho
 
Segundo o diretor Rodrigo Spader, do SNA, profissionais envolvidos em campanhas costumam ter rotinas pesadas. “Sabemos que em época eleitoral o piloto voa muito e o dia a dia é bastante cansativo”, disse.
 
De acordo com o sindicalista há relatos de que a fadiga pode contribuir para acidentes aéreos. “Existem já exemplos comprovados de acidentes onde a fadiga foi fator contribuinte. Cerca de 20% dos acidentes são decorrentes da fadiga e cerca de 90% o fator humano está presente”, afirmou Spader.
 
“Um piloto que tem jornadas extensas sem o descanso adequado pode cometer erros de julgamento. É uma questão de fisiologia. Um piloto, aliás, qualquer pessoa, que trabalhe por cinco madrugadas seguidas, que é possível pela nossa lei atual, com certeza não está em suas melhores condições para exercício da sua atividade”, disse o diretor.
 
Segundo o sindicato, por lei um piloto tem limite de 11 horas de jornada, com 12 horas de descanso. “Estamos em paralelo buscando alterações na legislação de forma a prever estes pontos na lei para aumentar a segurança de voo”, disse o diretor sobre o projeto de lei 434/11.
 
De acordo com ele, o texto do projeto foi aprovado em primeiro turno na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal. “Este projeto é fundamental para que os níveis de segurança da aviação brasileira sejam aumentados”, afirmou Spader.
 
“A legislação atual é completamente defasada e em alguns pontos coloca em risco as operações”, concluiu.
 
Conjunção de fatores
 
Especialista em segurança e amigo de Martins, Ricardo Chilelli afirmou à equipe de reportagem que ouviu do comandante que ele estava cansado por causa do trabalho.
 
"Falei com o Marcos por telefone na terça-feira [12]. Ele estava pousado no Rio e reclamou que estava muito cansado em função da agenda do candidato”, disse Chilelli. "Mas isso por si só não derruba aeronave nenhuma”.
 
Piloto particular, engenheiro aeronáutico e sócio proprietário da RCI First-Security and Inligente Advicing, empresa de segurança no voo nos Estados Unidos, Chilelli falou que a hipótese mais provável para a queda seja uma conjunção de diversos fatores.
 
"Todo acidente aéreo é uma conjunção de fatores. Só tem duas exceções: atentado ou ato voluntário. Tirando esses dois, desconheço no mundo que acidente seja uma única razão", disse Chilelli. "Cansaço do piloto pode ter tido participação nisso, assim como o tempo, questão meteorológica, problema mecânico e outras coisas".
 
Uso de avião
 
De 6 de junho, início oficial da campanha eleitoral, até quarta-feira, quando o avião caiu em Santos, Eduardo Campos teria percorrido mais de 35 mil quilômetros, passando por quase 40 cidades em 15 estados, segundo levantamento feito pelo G1. A equipe de reportagem não localizou assessoria de campanha para confirmar a informação.
 
O Cessna que se acidentou pertencia à empresa AF Andrade Empreendimentos e Participações Ltda. Com 350 horas de voo, estava com a manutenção em dia.
 
Todas as licenças operacionais do jato prefixo PR-AFA estavam regularizadas, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Mas de acordo com o deputado estadual Wilson Quinteiro (PSB), líder do partido na Assembleia Legislativa do Paraná, o mesmo jato que caiu em Santos havia apresentado problemas durante decolagem em Londrina, no Paraná, em 16 de junho. Na ocasião, houve um problema de ignição na aeronave.
 
Na investigação conduzida pelo Cenipa, será analisada a caixa-preta da aeronave que caiu. Nela podem estar os últimos 30 minutos de diálogos na cabine, e conversas com o funcionário de terra da base aérea. Em paralelo, a Polícia Civil apura “eventual crime de homicídio culposo”, sem intenção. A Polícia Federal (PF) também investiga o caso.
 
O acidente
 
A Aeronáutica informou em nota que o avião decolou do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao aeroporto de Guarujá, também no litoral. Quando se preparava para pouso, o avião arremeteu devido ao mau tempo. Em seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato com a aeronave.
 
Moradores disseram ter visto uma bola de fogo no céu. Os destroços atingiram residências do bairro e seis vítimas do acidente que moravam na área onde caiu o avião foram para a Santa Casa de Santos, entre elas duas crianças, duas mulheres e uma idosa. Segundo o hospital, todos passam bem.
 
A bordo da aeronave (veja como foi a queda do avião), estavam sete pessoas, das quais cinco passageiros (entre eles Campos) e dois tripulantes. Veja a lista dos mortos:
 
- Eduardo Campos, candidado à Presidência
- Alexandre da Silva, fotógrafo
- Carlos Augusto Leal Filho (Percol), assessor
- Geraldo da Cunha, piloto
- Marcos Martins, piloto
- Pedro Valadares Neto
- Marcelo Lira
 

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