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A pandemia criou o primeiro cemitério mundial de cruzeiros

Fonte: NIT
 
 
A assustadora odisseia do Diamond Princess foi provavelmente o filme que fez o mundo acordar para os perigos do novo coronavírus. Com quase quatro mil passageiros a bordo, serviu de ensaio à propagação da Covid-19. Bastou um passageiro infetado, que embarcou apenas durante cinco dias, para provocar uma cadeia de contágio que se transformaria numa verdadeira novela.
 
Assim que foram detectados os primeiros dez casos, o navio ficou em quarentena no porto de Yokohama, no Japão. Durante várias semanas, figurou quase sempre como entidade própria na lista de países com mais casos.
 
Os últimos dados revelados em março indicam que 712 dos 3711 passageiros ficaram infetados. O cenário do Diamond Princess repetiu-se um pouco por todo o mundo. Navios em quarentena, impedidos de chegar ao destino ou de regressar ao local de origem — sempre com passageiros e tripulações numa espécie de sequestro forçado, muitas vezes infetados.
 
A indústria dos cruzeiros estava forte e recomendava-se. Em 2019, transportou cerca de 30 milhões de passageiros. Era uma indústria de 130 mil milhões de euros que empregava mais de um milhão de pessoas. Ao fim de pouco mais de meio ano, o cenário é bem diferente. Os cruzeiros desapareceram lentamente dos mares. Os clientes também optam por alternativas menos confinantes. Onde é que param os navios?
 
A resposta pode ser encontrada numa pequena localidade turca. As docas de Aliaga parecem um set hollywoodesco em vias de gravar mais um filme apocalítico. As gigantescas embarcações empilham-se lado a lado, ferrugentas, sujas e num lento processo de autodestruição.
 
As docas habituadas ao desmantelamento de navios de mercadorias estão agora atoladas noutro tipo de trabalho: têm que transformar em sucata os cruzeiros que tantos milhões custaram às empresas e que, agora, vêm neste fim a única forma de sobreviver à crise.
 
“Quando os navios não conseguiam encontrar trabalho, rumaram ao desmantelamento”, explica à “Reuters” Kamil Onal, presidente de uma associação de reciclagem e desmantelamento de navios.
 
Os mais de 2500 homens não têm muito tempo para descansar, até porque cada navio demora cerca de seis meses a desmantelar. E eles não param de chegar, vindos predominantemente de Itália, Reino Unido e Estados Unidos.
 
As previsões são negras para a indústria dos cruzeiros, mas feliz para quem vive desta transformação em sucata: estimam que as 700 mil toneladas de metal processado em janeiro atinjam um pico de 1,1 milhões até ao final do ano. O volume de negócio cresceu cerca de 30 por cento.
 
A incerteza da indústria e as restrições — os Estados Unidos, por exemplo, proibiram a circulação nas suas águas de embarcações de passageiros acima de 250 pessoas — está a obrigar as empresas a cortarem custos e a lançarem para a reforma antecipada alguns dos seus navios mais antigos.
 
A construção destas embarcações pode custar entre 500 milhões a mil milhões e elas podem durar cerca de 40 anos. A sucata é uma alternativa pouco lucrativa. Estima-se que cada navio pode render apenas quatro milhões.
 
Os navios chegam intactos a Aliaga, antes de serem atacados e lentamente despedaçados. O metal é o bem mais pretendido, mas tudo o que se encontra no seu interior tem que dar rendimento. É por isso que o mobiliário é o primeiro a ser retirado, para depois ser negociado com vendedores locais ou colecionadores.
 

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