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O coronavírus está dividindo ricos e pobres – e pode levar centenas de milhares de pessoas à pobreza

Fonte: HuffPost
 
Isolar-se, trabalhar à distância e armazenar mantimentos não são opções para as pessoas cujo salário mal chegam até o final do mês.
 
 
Banda larga. Laptop. Um trabalho que você pode fazer de casa. Renda suficiente para estocar comida e remédios. Um freezer. O direito à licença médica remunerada.
 
Tudo isso faz parte da rotina de quem decide ou é forçado a se isolar, ou a trabalhar de casa, por causa do coronavírus.
 
E tudo o que pode não estar ao alcance das pessoas de baixa renda ou que têm trabalhos precários.
 
Para quem mal consegue sobreviver, doenças ou interrupção do trabalho pode ser muito mais que uma inconveniência – enquanto, do outro lado do espectro, as pessoas espalhavam o coronavírus (sem saber) em viagens de férias e em conferências internacionais.
 
Como tudo, a covid-19 está dividindo ricos e pobres.
 
Liam Evans, um dos diretores da organização Turn2us ajuda pessoas em dificuldades financeiras, afirmou ao HuffPost UK: “Se o seu salário mal chega até o fim do mês, você não vai conseguir estocar comida, se você não tiver freezer, não terá como guardar comida por muito tempo.” 
 
“São duas necessidades de quem precisa se isolar.”
 
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou esperar que até uma em cada cinco pessoas não irão ao trabalho no pico da epidemia.
 
Mas a Turn2us diz que as pessoas que vivem no limite pode facilmente viver uma crise financeira aguda caso fiquem doentes ou tenham de se isolar por motivos médicos.
 
Domicílios de baixa renda provavelmente não serão capazes de estocar comida e remédios e ficarão sujeitos à falta de alimentos nos supermercados e farmácias.
 
O “pânico” em relação ao alastramento da doença revelou um contraste marcante entre quem tem condições de se preparar e quem não tem, disse Evans.
 
“As pessoas que têm empregos manuais ou ganham por hora não têm o luxo de trabalhar de casa”, afirmou ele.
 
“Isso pode representar uma redução séria nos rendimentos e levar centenas de milhares de pessoas à pobreza.”
 
Os custos adicionais de trabalhar de casa – entre eles pagar internet banda larga e a própria logística – não são tão acessíveis para quem tem baixa renda. E muitas dessas pessoas nem sequer têm a opção do teletrabalho.
 
Vice-diretora da Joseph Rowntree Foundation, Helen Barnard ressaltou ao HuffPost UK que para muita gente, como motoristas que fazem entregas e cuidadores, não têm boas opções.
 
Para piorar as coisas, Barnard afirma que pessoas com deficiência e pessoas que sofrem de doenças crônicas podem estar entre as mais afetadas.
 
“As pessoas de baixa renda têm muito mais probabilidade de fazer parte desses grupos”, afirmou ela ao HuffPost UK.
 
“Elas estão entre as que mais têm chances de contrair o vírus e de sofrer as consequências mais graves, mas também são as menos equipadas para lidar com os impactos.” 
 
“Para quem mal consegue pagar as contas e fica sem trabalhar duas semanas, sem licença médica remunerada, o endividamento pode ser inevitável.”
 
Segundo a Bloomberg, americanos ricos têm perguntado se teriam acesso mais rápido a uma vacina – mas ainda serão necessários meses para que ela seja desenvolvida, afirma o governo britânico.
 
Para quem não tem muita renda sobrando, obter os recursos mínimos necessários já é um desafio.
 
“Parece haver pouquíssimas informações sobre o acesso a remédios [caso haja necessidade de se isolar], e muitos médicos não passam receitas para longos períodos”, acrescentou Barnard.
 
“As recomendações de estocagem partem do princípio de que todo mundo tem o dinheiro suficiente para fazê-lo. Mas não é o caso.”
 
“Isso ressalta a importância de um mercado de trabalho forte – que ofereça resiliência às pessoas em épocas emergenciais. São justamente as pessoas de baixa renda que não têm essa resiliência agora.”
 
A entidade Citizens Advice pediu que o governo “proteja os milhões de trabalhadores que podem enfrentar dificuldades financeiras” por causa do isolamento.
 
A organização, que oferece aconselhamento financeiro, quer que os ministros esclareçam direitos como licença-médica remunerada e garantam que aqueles que encontrem dificuldades possam obter ajuda caso não tenham direitos trabalhistas. 
 
“Ninguém deveria ter medo de ficar doente ou arriscar a saúde porque não vai conseguir pagar as contas, mas essa será a realidade de milhões de trabalhadores caso a epidemia piore”, afirmou Dame Gilliam Guy, presidente da Citizens Advice.
 
“Os problemas do nosso sistema de licença remunerada são conhecidos há tempos. Até mesmo para quem tem o direito, no Reino Unido, 400 libras por mês não é suficiente para cobrir os custos básicos. As pessoas se veem diante de uma escolha impossível: isolar-se ou continuar trabalhando mesmo que doentes.”
 
“O governo tem de esclarecer o direito de licença médica remunerada e certificar-se de que o sistema de benefícios pode ser flexibilizado.”
 
Evans afirma que as circunstâncias deixam claro que o sistema de segurança social tem de ser revisto – uma das bandeiras da Turn2us.
 
“[Há uma] necessidade urgente de um estado de bem estar social que atue com rapidez e agilidade”, acrescentou ele.
 
O ministro da saúde, Matt Hancock, afirmou no Parlamento inglês há duas semanas que o governo está “se preparando para o pior e para o melhor”.
 
“Nosso plano inclui não somente o caso mais provável, mas, sendo razoáveis, também a pior das hipóteses.”
 
“Vamos identificar e apoiar as pessoas mais vulneráveis e, se necessário, vamos tomar medidas para reduzir o impacto na nossa economia e nas nossas cadeias de suprimento.”
 

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