Fonte: BE News
Levantamento aponta lacunas de cobertura para riscos climáticos e entraves que encarecem e dificultam apólices no setor
A Associação de Terminais Portuários Privados (ATP), em parceria com o Ministério de Portos e Aeroportos (Mpor), divulgou um diagnóstico sobre os seguros obrigatórios dos Terminais de Uso Privado (TUP) e as lacunas de proteção existentes diante do aumento dos riscos climáticos.
Lançado na terça-feira (02/12), em Brasília, o estudo “Diagnóstico de Seguros em Terminais Portuários Autorizados” revela, a partir de dados concretos e relatos dos terminais, entraves práticos, jurídicos e financeiros que dificultam a contratação, a manutenção e a efetividade das apólices no setor. O levantamento também aponta um cenário preocupante: a ausência de coberturas amplas para eventos climáticos extremos, cuja ocorrência cresce em frequência e intensidade no Brasil.
Ao mesmo tempo, a pesquisa apresenta um conjunto de recomendações urgentes — que dependem de articulação entre terminais, seguradoras e poder público — para destravar o mercado, promover eficiência regulatória e fortalecer a gestão de riscos no ambiente portuário. No lançamento do estudo, o evento contou com um painel de debates entre representantes de TUPs, seguradoras, resseguradoras e corretores.
Com base em questionários e entrevistas, o estudo identificou que os TUP enfrentam uma combinação de riscos regulatórios, ambientais, operacionais, econômicos e, especialmente, climáticos, entre os quais estão enchentes, vendavais, granizo, marés de tempestade, secas e ondas de calor.
Desde fevereiro de 2024, a exigência regulatória para contratação de seguros se tornou obrigatória pela Antaq. Contudo, segundo o diagnóstico, a especificidade dos TUP — localizados fora da área de porto organizado — faz com que estejam expostos a responsabilidades adicionais, que vão além da operação logística, incluindo a gestão integral de acessos terrestres.
Entraves estruturais, baixa concorrência e o peso do “Risco Brasil”
O Diagnóstico revela uma série de obstáculos que impactam diretamente o custo e a eficiência das apólices. Entre eles, destacam-se:
• Baixa concorrência entre seguradoras e práticas conservadoras de precificação;
• Insuficiência de conhecimento técnico do mercado segurador sobre as operações portuárias, em suas diversas modalidades;
• Franquias elevadas, em muitos casos dolarizadas;
• Exposição cambial, já que grande parte dos equipamentos portuários é importada;
• Estruturas complexas de cosseguro e resseguro, que refletem o custo-país.
Com lacunas de dados específicos, seguradoras recorrem a modelos genéricos ancorados no “Risco Brasil”, elevando prêmios e dificultando a customização das coberturas.
Clima: a nova fronteira do risco portuário
Um dos capítulos do Diagnóstico aborda os seguros climáticos, área em que a ausência de produtos, regras claras e padronização impõe desafios crescentes aos terminais. O estudo mostra que, hoje, perigos como “excesso de calor” e “seca” simplesmente não são cobertos nos moldes usuais do mercado brasileiro. Há ainda limitações para riscos sistêmicos, como elevação do nível do mar e enchentes severas em bacias críticas.
Com isso, parte dos terminais recorre a programas globais de seguro, enquanto outros enfrentam escassez de oferta, optando por investir mais em adaptação e resiliência do que na transferência integral dos riscos.
Uma agenda para reduzir custos e ampliar segurança jurídica
Ao mapear os principais gargalos e apontar soluções, o estudo traz uma agenda estratégica para modernizar o ambiente de seguros no setor portuário privado. A ATP destaca que a evolução dessa agenda é fundamental para fortalecer a competitividade do setor, responsável por movimentar 64% da carga portuária nacional.
“Nosso diagnóstico mostra que é essencial aprimorar o diálogo entre os terminais e seguradoras e incentivar soluções de mercado que garantam mais previsibilidade, segurança jurídica e eficiência aos terminais privados”, diz Murillo Barbosa, presidente da ATP.
A diretora de Assuntos Econômicos do MPor, Helena Venceslau, ressalta que o governo federal busca soluções adequadas ao mercado e que tragam segurança jurídica aos contratantes. “O Ministério de Portos e Aeroportos trata como prioridade este tema que é de grande interesse dos terminais privados. Temos feito essa aproximação com o setor segurador e a CNseg para termos um diálogo construtivo e procurarmos produtos mais eficientes, com matriz de risco mais adequada e melhor precificação.”