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11/06/2021 - 08h39

Caminhoneiros autônomos de Santos dão prazo até dia 17 para terem resposta sobre vacinas


Fonte: Valor Econômico
 
Sindicato calcula que adesão conta com cerca de 1.500 caminhoneiros autônomos da Baixada Santista

 
Parados por 24 horas desde as 7h de ontem, caminhoneiros autônomos que atuam na Baixada Santista prometem paralisar as atividades novamente na próxima quinta-feira (17), se não tiveram prioridade na imunização contra a covid-19. A categoria endereça as reivindicações às esferas municipal, estadual e federal, com o intuito de ser igualada aos demais trabalhadores do Porto de Santos e motoristas celetistas incluídos na campanha vacinal.
 
Inicialmente, a classe planejava decretar greve já na próxima segunda-feira, 14, no caso de não ser atendida. Mas o prazo foi revisto após o deputado federal Nereu Crispim (PSL-RS), que preside a Frente Parlamentar em Defesa dos Caminhoneiros e Celetistas no Congresso, mandar recado acalmando a diretoria do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam).
 
Em vídeo enviado à entidade, ele informou encaminhamento de ofício, hoje ontem, aos ministérios da Saúde e Infraestrutura, em que pede que a vacinação de todos os caminhoneiros de Santos seja agilizada. A paralisação mostra o peso da pauta sobre vacinação no país, ao estremecer as relações dos trabalhadores locais com o governo Jair Bolsonaro (sem partido), num reduto onde o presidente contava até hoje com relativo apoio. O Porto de Santos é o maior e mais estratégico do país, e o apoio dos trabalhadores locais foi crucial para a greve nacional de 2018 ganhar vulto.
 
“Nossa pauta hoje é exclusivamente saúde, que é nossa prioridade. Não falamos de outro assunto”, diz Luciano Santos de Carvalho, presidente do Sindicam. Ele afirmou que a diretoria também se reuniu nesta quinta-feira (10) com representantes da Saúde do Município de Santos, da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e da Santos Port Authority (SPA) — autoridade portuária de Santos.
 
“Eles se comprometeram a levar o tema a Brasília e pedir a inclusão dos caminhoneiros autônomos de Santos e região na categoria dos portuários. Somos cerca de 8 mil caminhoneiros e pedimos em torno de 10 mil vacinas. Como muita gente já foi vacinada, acreditamos que isso será suficiente até a para a segunda dose”.
 
“A gente enfrenta a mesma situação e frequenta os mesmos ambientes onde circulam dos demais trabalhadores. Não tem cabimento que os autônomos fiquem de fora da vacinação”, reforça Marcelo Aparecido Santos da Paz, representante dos motoristas autônomos do Porto de Santos no Fórum Permanente para o Transporte Rodoviário de Cargas (TRC).
 
Ele ressalta que o Porto de Santos recebe navios de todos os países do mundo, por onde inclusive podem ingressar novas cepas do coronavírus.
 
“Estamos muitos expostos”, diz. Segundo o sindicalista, se a reivindicação não for atendida, nova paralisação será inevitável.
 
Relação abalada com Bolsonaro
 
A restrição no acesso às vacinas abalou as relações entre caminhoneiros autônomos da Baixada Santista e o presidente Jair Bolsonaro. A afirmação é do José Cícero Rodrigues, diretor do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam), ao falar dos ânimos dos colegas um ano e três meses após a pandemia chegar ao Brasil.
 
“Abalou essa relação, sim”, frisa Rodrigues. Ele diz que os caminhoneiros de Santos sempre apoiaram o presidente, evitando aderir a movimentos grevistas pelo país durante seu mandato. Mas essa fidelidade não encontrou correspondência quando a categoria se viu exposta ao novo coronavírus, argumenta.
 
“Nós deveríamos ter sido incluídos como prioridade desde o início da vacinação. Navios do mundo todo aportam aqui. Afinal, é pelos portos e aeroportos que podem entrar as variantes perigosas do coronavírus”, ressalta Rodrigues.
 
Ele observa que circulam diariamente nas docas estivadores, tripulações e cargas, com os quais os motoristas têm contato direto. “Inclusive é com nossa ajuda que o país é abastecido pelos insumos que vêm de fora”.
 
Liderança respeitada na zona portuária de Santos, Rodrigues é também bom termômetro de como as relações da categoria com o governo, se não houver manutenção, podem se deteriorar até o fim do mandato. “Entendemos que o presidente estava começando, mas a realidade é que as pautas de 2018 não foram atendidas ainda, e agora enfrentamos essa pandemia. Nos sentimos preteridos com esse descuido”, diz.