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11/10/2018 - 00h22

Com tecnologia, exportação brasileira cresceria 3 pontos porcentuais por ano até 2030


Fonte: O Estado de S. Paulo
 
Para OMC, redução de custos permitiria que emergentes representem quase 60% do comércio mundial em 15 anos
 
A revolução tecnológica permitirá que os países emergentes vejam uma redução nos custos de comércio e poderão, em 2030, representar 57% dos fluxos de exportações e importações no mundo. Os dados estão sendo apresentados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) em seu informe anual publicado na última quarta-feira, 3, em Genebra. 
 
No caso do Brasil, a entidade estima que a introdução de novas tecnologias poderia fazer com que a expansão do comércio recebesse um impulso extra de cerca de três pontos porcentuais por ano até 2030, bem acima da média mundial. Para isso, porém, o País teria de se abrir para as inovações.
 
De acordo com o levantamento, os custos do comércio no mundo caíram em 15 pontos porcentuais entre 1996 e 2014. Mas, na avaliação de Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC, a nova revolução poderá fazer o comércio crescer entre 1,8 e 2 pontos porcentuais por ano, até 2030. “De forma acumulada, isso representará um aumento de 31% a 34% em 15 anos”, declarou. 
 
Hoje, 35% dos custos de uma exportação estão ligados ao transporte, enquanto procedimentos nas fronteira e logística também têm um peso importante. Com as novas tecnologias, a previsão é de que esses custos sejam reduzidos de forma importante.
 
“Em tal cenário, a participação dos países em desenvolvimento no comércio poderia aumentar de 46% para 57% em 2030”, declarou Azevedo. Segundo ele, porém, isso vai depender de como governos vão estabelecer políticas para permitir que essa tecnologia seja utilizada. 
 
Sem uma estratégia, Azevêdo alerta que a comunidade internacional pode ver um aprofundamento das disparidades como resultado da tecnologia. “As forças de mercado não serão suficientes”, disse. 
 
No levantamento, a OMC admite que nem todas as regiões do mundo vivem da mesma forma o desenvolvimento tecnológico. No Brasil, por exemplo, menos de 50% da população tinha acesso a computadores em sua casa em 2015. Naquele mesmo ano, a taxa era de quase 100% no Norte da Europa. 
 
Mas, com políticas públicas que possam ir na direção correta, a OMC aposta que seriam os emergentes quem mais ganhariam com a tecnologia no comércio. No caso brasileiro, a estimativa é de que a tecnologia poderia reduzir os custos de comércio em 0,76 pontos porcentuais por ano até 2030, uma taxa superior ao que ocorreria nos EUA, com 0,43 pontos porcentuais por ano. 
 
A OMC também prevê que, no caso do Brasil, o papel do comércio de serviços aumentará de 15% para 18%. No mundo, a taxa subiria dos atuais 21% para 25% até 2030. 
 
Na avaliação de Azevêdo, o que o comércio vive hoje é uma mudança sem precedentes por conta da tecnologia. “São mudanças estruturais”, destacou. Em apenas 20 anos, o comércio de tecnologia triplicou, passando a valer US$ 1,6 trilhão em 2016. 
 
Segundo ele, a tecnologia de blockchain ajudará pequenas empresas e aumentar transparência e visibilidade, além de acelerar a digitalização de trocas comerciais. Sua estimativa é de que, até 2030, US$ 3 trilhões seriam adicionados no comércio apenas por conta dessa inovação.
 
Internet, impressoras 3D e outras tecnologias também prometem ter um impacto grande na redução do custo do comércio. A avaliação da OMC é de que, com as impressoras 3D, alguns produtos podem deixar de cruzar fronteiras, também fazendo os custos desabarem. Não se compraria mais o produto, mas o código para produzir algo. 
 
 “Estamos entrando em nova era econômica. E como responderemos é uma momento definidor de nosso tempo”, disse Azevedo. 
 
Tensão
 
O brasileiro ainda destacou como a tecnologia - e não o fluxo comercial - tem sido o responsável por grande parte das mudanças em mercados de trabalho, o que alimenta uma tensão sobre governos em busca de proteção para certos setores. “Estamos vivendo uma escalada de tensões que ameaça ter um impacto económico grande”, disse, numa referência à pressão do governo americano por novas relações comerciais com seus parceiros. 
 
“É responsabilidade de todos buscarmos uma solução. Precisamos ouvir as pessoas afetadas. Não podemos ignorá-las.  Empregos estão sendo perdidos na agricultura e na indústria. A ansiedade sentida pelo trabalhadores é real. Mas 80% da perda de postos de trabalho foram causaras pela automação, não pelo comércio”, alertou o brasileiro. 
 
Em sua avaliação, a comunidade internacional precisa responder a essa mudança. Mas a resposta não será asfixiando o comércio, com medidas protecionistas. “Isso apenas vai agravar a crise e gerar mais desemprego. Precisamos de um debate informado”, alertou.