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Mais da metade dos aposentados cortaram gastos

Fonte: Diário de S. Paulo 

O momento da aposentadoria reserva uma realidade bastante desagradável para a maioria dos brasileiros. Cerca de 52% dos aposentados tiveram de reduzir algum tipo de despesa depois que o  benefício foi concedido para não estourar o orçamento doméstico. O dado foi revelado na pesquisa da Consultoria Mercer com aposentados de todo o país. Um em cada três entrevistados disse que as despesas aumentaram após a aposentadoria.
 
Para driblar as surpresas dessa nova fase  é preciso ser criativo e atento para reduzir os gastos sem  haver muito impacto na qualidade de vida. Os aposentados com mais de 60 anos podem se cadastrar nas empresas de transporte e pegar o bilhete (ou cartão) do passe livre. Para quem faz duas viagens durante 22 dias por mês, a economia é de R$ 132 (18% do salário mínimo).
 
Outra boa maneira de economizar é aproveitar os programas de descontos das redes de farmácias, que dão até 60% de redução  no preço dos medicamentos. O governo também dá um subsídio de até 90% no valor dos remédios nas unidades da rede Farmácia Popular. Em São Paulo, também é possível conseguir gratuitamente remédios de alto custo - basta apresentar a receita e os documentos de identidade e endereço no AME (Ambulatório Médico de Especialidades) Maria Zélia, no Belém, na Zona Leste da capital.
 
Também é possível conseguir bons descontos e vantagens se filiando a entidades de classe. No Sindicato Nacional dos Aposentados da Força Sindical, a mensalidade é de 0,5% do valor do benefício e o associados podem usar as colônias de férias (na praia e no campo), ter descontos em dentista e cursos universitários.
 
Nas entidades filiadas à Fapesp (Federação dos Aposentados e Pensionistas do Estado de São Paulo), o aposentado também recebe assessoria jurídica e pode usufruir dos convênios. O site da Fapesp é o www.federacaofapesp.com.br. Cada associação tem convênios e políticas de mensalidades específicas.
 
Para quem gosta de esportes, lazer e cultura, uma boa opção é a rede Sesc, que promove atividades  para os idosos.
 
Entrevista com Luiz Adriano da Silva, dirigente do Sindicato Nacional dos Aposentados da Força  Sindical
 
DIÁRIO: Como é a atuação do sindicato junto ao governo para recuperar o poder de compra das aposentadorias?
 
SILVA: O sindicato realiza diversas reuniões e cobranças ao governo sobre o tema, que é parte de nossa pauta de reivindicações.  Não há reunião desde junho do ano passado sobre o tema.  Inclusive foi realizado acordo em 2008 com o governo, que foi aplicado somente nos anos de 2009 e 2010 que previa a aplicação de 50% da variação do PIB do exercício anterior somado à variação do INPC para recomposição do poder de compra. Este acordo não foi renovado neste Governo.
 
P: Quais os motivos que provocam a redução tão drástica das aposentadorias?
 
R: O fator previdenciário e a correção da aposentadoria que não reflete a perda do poder de compra dos benefícios.
 
P: O governo é irredutível na questão do fim do fator previdenciário e também no mesmo índice de reajuste de benefícios para todos. O sindicato já apresentou alguma proposta alternativa? Qual? O que o governo diz?
 
R: O sindicato apresentou a proposta do fator 85/95 que leva em consideração a soma de idade mais o tempo de contribuição de 85 anos para mulheres e 95 anos para homens. O governo estuda esta proposta, mas não houve acordo até o momento.  Nós defendemos também a criação de índice específico que meça a inflação para os idosos que ganhem até o teto da previdência social. 
 
P: Alimentação, habitação, plano de saúde e remédios são alguns dos pontos que mais impactam no orçamento dos aposentados. Em São Paulo, por ter um custo de vida maior o impacto é ainda maior? O Sindicato tem algum estudo ou dado sobre isso?
 
R: Cobramos que o governo crie este índice tal qual o INPC/IBGE
 
P: O número de trabalhadores que são aposentados não para de crescer. Há alguns anos era 3,5 milhões e hoje já ultrapassa os 4 milhões. Isto tem relação com a diminuição do poder de compra? Se for considerar aqueles que trabalham na informalidade, qual o total de aposentados que ainda precisam exercer alguma atividade para reforçar o orçamento de casa?
 
R: O Brasil registra um contingente significativo de mão de obra em trabalhos informais: 44,2 milhões de pessoas. A informalidade é uma característica que afeta principalmente a população idosa com 60 anos ou mais, onde 71,7% se encontram neste setor exatamente pelo fato de que seus benefícios não são suficientes para sua subsistência.
 
P: Qual é o principal ponto de revindicação que o governo assume estudar para melhorar o poder de compra dos aposentados?
 
R: É a criação do índice de específico para os Aposentados. O governo é sensível a esta questão, mas ainda não destacou grupo de estudo ou viabilizou qualquer proposta neste sentido.
 
Conheça três histórias de aposentados que abriram mão de algum hábito após a aposentadoria
 
FUTEBOL
 
O ex-porteiro Manuel da Silva, de 66 anos, tinha uma expectativa muito alta quando se aposentou dois anos atrás. “Esperava melhorar de vida e aproveitar o tempo livre”, fala. No entanto, a renda de cerca de R$ 900 por mês caiu para um salário mínimo (R$ 725). “Eu sou palmeirense e gosto muito de futebol. Depois que me aposentei, não consegui mais ir ao estádio. O último ingresso que comprei custou R$ 30. Hoje já não dá mais para ir.” Ele consegue economizar um pouco com transporte público usando cartões especiais da capital, de Guarulhos, onde mora, e da região metropolitana.
 
VIAJAR
 
Miguel Arico Júnior, de 61 anos, começou a trabalhar muito cedo e, como consequência disso, completou o tempo necessário para se aposentar ainda jovem, com 53. “Trabalhei duro a vida toda. Comecei com 15 anos e  o primeiro registro foi aos 18. Antes de eu me aposentar,  gostava de viajar. Cheguei a passar um carnaval maravilhoso em Santa Catarina, mas hoje é impossível”, diz. Para complementar a renda, ele voltou ao mercado de trabalho. Como aposentado, ele aproveita as promoções para pagar metade do preço nos ingressos do teatro. “Sem isso, não poderia ir”, afirma.
 
PESCA
 
Quando se aposentou como motorista dos Correios em 2009,  Sebastião Firmino Adão, de 60 anos, cultivava o hábito de viajar pelo menos duas vezes por ano. Atualmente, para conseguir fazer um passeio para a praia com a família o aposentado de Cajamar precisa fazer uma poupança durante meses. “Mesmo assim, as viagens estão cada vez mais raras. Sinto falta de poder conhecer outros lugares do país e poder pescar, por exemplo”, lamenta. Sebatião, quando trabalhava, abastecia o tanque do carro duas vezes por mês. “Hoje, mesmo fazendo bico, só abasteço uma vez” , conta.
 

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