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Acessos e necessidade de novos investimentos no Porto de Santos

Fonte: A Tribuna On-line / Rodrigo Paiva*
 
Investimento não pode ser feito ou pensado de forma dissociada da melhoria e otimização da infraestrutura
 
Há algumas semanas falei aqui sobre a importância de trazer à mesa a necessidade de investimentos em acessos terrestres ao Porto de Santos. Volto hoje com uma análise mais aprofundada como forma de contribuição a essa discussão tão necessária.
 
Santos é a principal porta de entrada e saída de mercadorias do País, movimentando cargas de todos os estados brasileiros e mais de 200 países. O complexo vem apresentando um desenvolvimento sólido e sustentável: crescimento médio de 5% ao ano entre 2014 e 2023. A infraestrutura logística que serve o Porto já apresenta sinais de saturação. E esse problema tende a se agravar nos próximos anos dadas as projeções de crescimento do Porto. Investimento na modernização e na expansão da capacidade do Porto de Santos não pode ser feito ou pensado de forma dissociada da melhoria e otimização da infraestrutura logística que o serve.
 
Podem ser analisados diversos cenários de crescimento para o Porto de Santos. O mais conservador seria seguir o Plano Mestre do Porto, cujo crescimento médio atingiria 1,6% ao ano, chegando em 2060 com 280 milhões de toneladas movimentadas. Um outro, mais agressivo, seria a continuidade do crescimento observado de 5% ao ano, chegando a 950 milhões de toneladas em 2060. Um cenário intermediário, de aumento de 3,5% ao ano, levaria a uma movimentação de 600 milhões de toneladas no ano 2060.
 
Mas essa movimentação é possível de ser alcançada pelo complexo portuário? O que é necessário analisar para garantir essa captação de carga? Existe capacidade de cais, de armazenagem e de acessos para isso? É o que mostraremos adiante.
 
Utilizando-se de dados públicos, podemos avaliar a menor das capacidades disponíveis entre acessos, acostagem e armazenagem para determinar a capacidade limite atual do porto. Em termos de acostagem, a capacidade atual gira em torno de 230 milhões de toneladas/ano, a de armazenagem também de forma equilibrada com a de acostagem. No entanto, quando se olham os acessos terrestres, tem-se um limite claro na soma das capacidades rodoviária e ferroviária, em cerca de 182 milhões de toneladas/ano. Ou seja, o complexo portuário já utiliza cerca de 92% dessa capacidade de acesso, correspondendo ao limite atual para crescimento do porto.
 
Como alterar esse cenário? Existem diversas frentes para que isso ocorra. Uma primeira é a tentativa de aumento de eficiência, como melhoria de infraestrutura atual, aplicação de novas tecnologias e automação para melhoria da logística de chegada e se evitar filas desnecessárias. Mas, provavelmente, o ganho de eficiência não atenderá a demanda futura. Então, há, sem qualquer dúvida, a necessidade de investimentos estruturantes.
 
Do ponto de vista portuário existem diversos projetos estruturantes em gestação, como a expansão de terminais já operacionais no porto, novos arrendamentos e novos Terminais de Uso Privado (TUPs). Se esses projetos saírem do papel, a capacidade portuária chegaria a cerca de 450 milhões de toneladas por ano em 2060, sendo que em 2045 haveria um gargalo já identificado, se considerado o cenário mais otimista de crescimento, ou 2050, com o cenário intermediário.
 
Do ponto de vista dos acessos, os únicos investimentos já anunciados são de melhorias e expansão de capacidade das concessionárias atuais e da Fips, que irão aumentar cerca de 52% a capacidade do acesso, alcançando 276 milhões por ano de capacidade de acessos terrestres.
 
Por uma comparação breve, se observa que o acesso terrestre continuará sendo o principal gargalo do porto. Assim, apesar de eficiente, a infraestrutura logística que serve o Porto já apresenta sinais de saturação, que comprometem sua eficiência e consequentemente a competitividade da indústria nacional no mercado global. Os dados obtidos permitiram identificar que esse problema tende a se agravar nos próximos anos.
 
Desde a primeira avaliação realizada no âmbito do Plano Nacional de Logística Portuária (PNLP), ficou evidente que um dos principais obstáculos para o crescimento das operações portuárias são os acessos terrestres, especialmente nos portos situados em áreas urbanas, como é o caso de Santos. O fluxo local de veículos, somado ao tráfego turístico e de cargas, enfrenta desafios significativos devido à geografia local e à infraestrutura urbana, exigindo abordagens diferenciadas. Em particular, a Margem Direita do Porto de Santos, localizada em uma área urbana mais congestionada, enfrenta crescentes volumes de tráfego na região da Alemoa, que está na entrada da cidade, e demanda soluções específicas para lidar com projetos futuros de expansão.
 
A melhoria da capacidade de tráfego, o estabelecimento de vias dedicadas para caminhões que acessam o porto e o aumento da capacidade rodoviária e ferroviária são cruciais para o futuro das operações portuárias.
 
O crescimento da corrente de comércio internacional brasileira depende da eficiência do Porto de Santos e a eficiência do Porto de Santos depende da eficiência do acesso ao Porto.
 
*Rodrigo Paiva, especialista em infraestrutura e consultor portuário
 

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