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É preciso preparar o trabalhador para os portos inteligentes

Fonte: A Tribuna On-line / Paulo Alexandre Barbosa*
 
Modernizar os terminais portuários e capacitar os profissionais da área é fundamental para o Brasil
 
No começo do século 20, há cerca de 100 anos, a força ‘braçal’ é que simbolizava o trabalho dos portuários de Santos, representada na figura do lendário estivador Jacinto, conhecido como o ‘Sansão do Cais’. Ele conseguia empilhar cerca de cinco sacas de café nas costas, acima da média geral, pois, à época, cada trabalhador levava de duas a três sacas dos armazéns para dentro dos navios.
 
Era um cenário muito diferente que temos hoje, no início do século 21, e que vem se transformando intensamente com a modernização dos portos em curso em todo o mundo. No lugar da força do trabalhador, ganharam espaço as transportadoras, guindastes e empilhadeiras, entre outros maquinários utilizados para a maior rapidez na movimentação de cargas.
 
Nos próximos anos, com o avanço da tecnologia 5G no Brasil, os investimentos nos chamados ‘smart ports’ (portos inteligentes) vão se multiplicar, impactando nas relações de trabalho e ampliando a busca do setor por profissionais altamente especializados, em especial de áreas relacionadas à tecnologia da informação.
 
Uso de drones no transporte de insumos para os navios, Internet das Coisas (IoT) na automatização de processos logísticos (liberação de cargas nos terminais, entrada e saídas nos armazéns etc), realidade aumentada para manobras das embarcações ou armazenamento, cruzamento de dados e projeções com auxílio da Computação em Nuvem, Big Data e Inteligência Artificial, são alguns dos exemplos de tecnologias já em uso e que se tornarão cada vez mais presentes.
 
Diante desta nova realidade, foi muito importante o conhecimento de experiências do Porto de Roterdã (Holanda) - um dos maiores do mundo e referência na adoção de tecnologias - com a ida de uma comitiva regional, formada por empresários, autoridades portuárias e representantes do poder público, dentro da programação do seminário Porto & Mar, do Grupo A Tribuna.
 
A cidade holandesa é uma espécie de ‘Vale do Silício’ do setor portuário e nos serve como uma boa referência. Por lá, há avançado simulador de dragagem e um centro de treinamento portuário de ponta, da Faculdade de Transporte e Navegação (STC, na sigla em inglês), que capacita os trabalhadores para os atuais e futuros desafios da área.
 
Durante o intercâmbio internacional, uma boa notícia é que avançaram as tratativas da Prefeitura e Autoridade Portuária de Santos com a instituição de ensino holandesa, visando convênio que ajudará a implementar um centro de treinamento similar em Santos, medida que sempre defendi.
 
Esta iniciativa deve ocorrer integrada às ações do Parque Tecnológico de Santos, desenvolvendo startups, empresas e profissionais da região para atuarem nos portos inteligentes e, assim, ajudarem a criar soluções em prol da maior eficiência, redução dos seus impactos ambientais e melhoria na relação com a Cidade.
 
Dentro do processo de desestatização do Porto de Santos, em curso pelo governo federal, não se pode deixar de lado a necessidade de manutenção dos postos de trabalho e a qualificação dos atuais profissionais, especialmente os avulsos, responsáveis pela história de sucesso do nosso cais, o principal da América Latina e por onde passam 30% da balança comercial do País.
 
Avançar com a modernização portuária somente é válido quando se gera desenvolvimento e todos ganham com esta transformação.

*Paulo Alexandre Barbosa, ex-prefeito de Santos
 

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