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Cai desemprego entre chefes de família, mas ocupação é precária

Fonte: Valor Econômico
 
Desde o segundo trimestre de 2017, período que marca o início de recuperação do emprego no país, 441.759 deles conseguiram se reocupar, considerando dados já ajustados sazonalmente. Nesse intervalo, a taxa de desemprego desse grupo recuou de 8,1% para 7,9%
 
Principal responsável pelas despesas de casa, Erick Herthal, 36 anos, era gerente de um restaurante em Cabo Frio, na região dos Lagos do Estado do Rio, quando a crise começou a afetar sua vida. Primeiro, o menor movimento de clientes reduziu seu salário, de R$ 9 mil para R$ 3 mil mensais. Depois, saiu do emprego e optou mudar de cidade. Casado e pai de uma menina de cinco anos, Herthal decidiu começar a vender quentinhas para pagar as contas.
 
"Vender comida transportada é um modo de sobrevivência. Não tem plano de saúde, nem garantias. O resultado tem sido, inclusive, aquém do esperado. Mas é algo que ajuda a pagar as contas e abre uma oportunidade de negócio", disse ele, que vende de 50 a 80 quentinhas diariamente no porta-malas de seu Ford Ecosport vermelho, estacionado numa esquina do centro do Rio.
 
O caso de Herthal é um entre milhares de chefes de família que estão se reinserindo no mercado de trabalho via ocupações precárias. Desde o segundo trimestre de 2017, período que marca o início de recuperação do emprego no país, 441.759 deles conseguiram se reocupar, considerando dados já ajustados sazonalmente. Nesse intervalo, a taxa de desemprego desse grupo recuou de 8,1% para 7,9%.
 
Os números, levantados por Cosmo Donato, da LCA Consultores, a partir dos microdados da Pnad Contínua, do IBGE, mostram uma recuperação ainda tímida ante às perdas da crise. Durante a crise, o número de chefes de domicílio desempregados dobrou, de 1,5 milhão de pessoas no quatro trimestre de 2014 para 3,4 milhões no primeiro trimestre de 2016, uma alta de 125%.
 
O fenômeno de desemprego de chefes de família preocupa pelo potencial de desestruturar lares. A necessidade de recompor a renda familiar empurra para o mercado de trabalho demais integrantes da casa, como cônjuges e filhos. Isso gera pressão adicional de oferta de mão de obra. Segundo o IBGE, 5,1 milhões de pessoas tornaram-se economicamente ativas desde o quatro trimestre de 2016.
 
"Existem mais de 3 milhões de chefes de família desempregados, mas vimos um início de recuperação. Acredito que esse chefe de família terá mais condição de conseguir emprego neste ano, com a economia crescendo em ritmo mais acelerado, de 2,5%. Isso vai gerar espaço para mais confiança de empresários e contratação de mão de obra, inclusive formal", afirma o economista.
 
Nesse processo, os mais jovens passam a dividir seu tempo de estudo com o trabalho - ou, pelo menos, a procura por ele. O economista Sérgio Firpo, do Insper, que estudou o fenômeno do desemprego entre chefes de famílias na crise, diz que existe uma geração de jovens afetada pelo desemprego de seus pais, os chamados "filhos da crise". Entre eles, adultos jovens que precisaram deixar a faculdade.
 
"Para que esse jovem volte exclusivamente a estudar será preciso, inclusive, que o chefe da família volte a conseguir um emprego formal, com horizonte profissional. Creio que poucas pessoas que precisaram ir vender quentinha na rua consigam pagar uma conta de faculdade, até porque em geral a renda dele é menor, perdeu benefícios", disse o professor do Insper.
 
Conforme o levantamento da LCA, entre os 441.759 chefes de famílias que conseguiram emprego desde o segundo trimestre de 2017, 254 mil ocuparam-se no trabalho por conta própria, inserção associado à informalidade. Outros 50 mil conseguiram vaga como empregados no setor privado, mas sem ter a carteira de trabalho assinada.
 
Apesar do emprego informal ter geralmente baixa qualidade e pagar piores salários, o rendimento médio do chefe de família cresceu 4,65% desde o segundo trimestre, para R$ 2.524. Por trás dessa melhora está a queda da inflação no ano passado. Os trabalhadores receberam reajuste com base no INPC de 2016, que foi de 6,58%. Mas a inflação de 2017 foi de apenas 2,07%.
 
Na média, consultorias e instituições financeiras antecipam um ano de recuperação do emprego formal. Em 2017, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, identificou o fechamento de 20.832 vagas. Especialistas consultados pelo Valor Data em dezembro projetavam geração líquida de 850 mil vagas em 2018.
 
"Eu não tenho mais plano de saúde. É muito caro pagar. Se melhorar agora, posso voltar. Mas estou de olho em oportunidades. O Comperj, da Petrobras, que pode voltar. Se isso acontecer, vai abrir oportunidade de vendas em Itaboraí", disse Herthal, que tirou CNPJ de olho nas oportunidades do Comperj e para aceitar cartão-alimentação.
 

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