Artigos e Entrevistas

Trabalhadores sem partido, uni-vos!

Fonte: Folha de S. Paulo / Reinaldo Azevedo (*)

Um amigo, Felipe Nogueira, me sugeriu o tema desta coluna. Há uma nova consciência se formando no país. Ela não sabe direito quais são os pressupostos do PT. Também não tem muito claros os fundamentos do PSDB. Uma coisa é certa: essa turma não é mais refém dessa dualidade que, a seu modo, só interessava aos litigantes, como em "Os Duelistas", o excelente filme de estreia de Ridley Scott. As personagens de Harvey Keytel e Keith Carradine passam a vida tentando matar um ao outro. Até o dia em que o desequilíbrio acontece, e um deles morre.
 
Bem, e aí? Aí o filme acaba em melancolia. Não estou dando spoiler nenhum. Por óbvio, haveria a hora em que um dos dois cometeria um erro. Aconteceu. E o outro pôde experimentar, então, a verdadeira solidão.
 
Há um novo lugar na política brasileira que, até agora, não foi ocupado por ninguém. Os milhares, ou milhões, que saíram às ruas no dia 15 de março são órfãos de partido, são órfãos de representação, são órfãos de porta-vozes. A maioria conservadora do país –que excita o tédio e a fúria pretensamente elegantes e inequivocamente persecutórios da revista "Piauí"– não encontra seus representantes na política institucional.
 
É crescente o número de pessoas dessa maioria a perceber que os tucanos, por exemplo, continuam, com as exceções de praxe, com medo "do povo que há" porque demasiadamente preocupados "com o povo a haver". Peessedebistas, em suma, ainda privilegiam em seu discurso uma população, digamos, escoimada de suas supostas impurezas.
 
Vários movimentos que se opõem ao atual estado de coisas convocaram um protesto para este domingo, dia 12. Talvez reúna menos gente do que o do dia 15 de março. Superar aquele marco não é relevante. Nenhuma sociedade, a menos que viva uma convulsão pré-revolucionária, se mantém permanentemente na rua contra o "statu quo".
 
O sintoma que interessa ao futuro é outro. Mesmo liderando uma máquina ainda poderosa e organizada, CUT e PT protagonizaram um vexame na terça passada. Nem os companheiros compareceram ao enterro da última quimera de Luiz Inácio Lula da Silva. Quem apostaria, até outro dia, que a prontidão de mulheres e homens comuns, sem o abrigo de bandeiras, superaria a da militância organizada? Mas hoje é assim.
 
Os procuradores da velha ordem ainda insistem em ouvir no alarido dessa rua sem pedigree o sotaque daquela dualidade que interessava a oportunistas e picaretas. Acabou. Não há mais. Quando a esquerda financeira da revista chique para botocudo faz pouco caso da direita-sem-banco que produz, bate panelas e se nega a financiar o PT, a gente tem de concluir que algo de efetivamente novo está em curso no país. Para a tristeza dos dinossauros de punhos de renda.
 
E essa novidade não depende nem da adesão nem da bênção daqueles que se queriam os donatários da legitimidade das causas. A tão sonhada, pelas esquerdas, "democratização" dos meios de comunicação se realiza na prática e leva à praça a voz dos que trabalham e arrecadam impostos. E isso parece insuportável aos ouvidos dos distributivistas do fruto do trabalho alheio –desde que o spread bancário financie a boa consciência, é claro!
 
Tucanos versus petistas? Que coisa velha, santo Deus! Também o PSDB terá de se reinventar, e haverá de ser à direita, se não quiser ser banido, junto com o PT, do universo de referências desses que ora despertam. 



(*) Reinaldo Azevedo, jornalista, é colunista da Folha e autor de um blog na revista 'Veja'. Escreveu, entre outros livros, 'Contra o Consenso' e 'O País dos Petralhas' e 'Máximas de um País Mínimo'. 
 

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Comentários (1)

Alderides Madeira
Data: 27/04/2015 - 16h36
É uma ofença ao movimento sindical da classe trabalhadora, um sindicato dos trabalhadores, repercutir Reinaldo Azevedo iminigo numero um dos trabalhadores.
Fica aqui meu prot5esto!

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