Artigos e Entrevistas

Os desafios do transporte de cargas no país

Fonte: Brasil Econômico / Vital Jorge Lopes (*)

A última greve dos caminhoneiros trouxe à tona a necessidade de se realizar investimentos consistentes na Infraestrutura do país
 
A última greve dos caminhoneiros trouxe à tona a necessidade de se realizar investimentos consistentes na Infraestrutura do país e, sobretudo, avaliar a distribuição da malha viária brasileira, concentrada no transporte rodoviário. Em um momento de cenário político e econômico delicado, de comprometimento da competitividade das empresas, analisar os principais problemas que envolvem o modal rodoviário é tão fundamental quanto discutir a necessidade de uma mudança que valorize a intermodalidade. 
 
O transporte por caminhões é mais rentável quando utilizado em várias viagens curtas do que uma longa, quando o mais recomendável e competitivo seria utilizar a cabotagem. De acordo com estudo do Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS) de 2013, para cada 1% de crescimento no PIB, a movimentação de contêineres cheios na cabotagem cresce, em média, 3,5%, enquanto o setor de transporte como um todo alcança 1,5%. 
 
Embora o volume venha crescendo, a cabotagem ainda tem baixa represen-tatividade na matriz de transporte brasileira, cerca de 9,6%, o que evidencia o grande potencial do modal. Em um cenário de mudança de cultura que volte os olhos para esse modal, teríamos um movimento que permitiría a redução de custos logísticos da cadeia de transportes, eficiência ambiental e segurança para as cargas e estradas. Se outros mo-dais, como ferrovias e hidrovias, receberem os investimentos e incentivos adequados igualmente podem ajudar na versatilidade da malha viária brasileira. 
 
Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), são necessários quase R$ 1 trilhão em investimentos para projetos prioritários de Infraestrutura de transporte a fim de eliminar os gargalos enfrentados pelo setor. As iniciativas compreendem ampliação e modernização de Rodovias, aeroportos, portos, hidrovias, ferrovias e terminais de cargas e passageiros. 
 
Os números justificam a necessidade do porte robusto de investimentos. Em 2014, somente os portos brasileiros movimentaram 970 milhões de toneladas de produtos, o que representa um crescimento de 4,3% frente a 2013, segundo dados divulgados no Anuário 2014 da Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq). Já na navegação de longo curso - entre portos de diferentes países - a movimentação alcançou 714 milhões de toneladas, sendo 552 milhões em produtos exportados e 162 milhões em importações. 
 
Números, estudos e intenções não faltam para sinalizar que a intermodalidade é um caminho viável para tornar mais eficiente a Logística do Brasil. Já é possível perceber o movimento de muitas empresas migrando o transporte parcial ou total de suas mercadorias do modal rodoviário para as vias marítimas. Um exemplo dessa busca por modais mais competitivos é o aumento da utilização da cabotagem na rota Manaus-Santos, que, segundo estudos do ILOS, passou de 42% em 2010 para 55% em 2013. 
 
Se a cultura de utilização da intermodalidade fosse mais internalizada, retirando a sobrecarga do modal rodoviário, todos os agentes e a cadeia produtiva sofreriam menos com contratempos como a greve dos caminhoneiros. E hora de pensar e repensar nos rumos e nos projetos que queremos de fato ver em nosso Brasil. Infraestrutura é apenas uma agulha no palheiro frente aos desafios que temos pela frente. E já que estamos em época de ajustes e na busca pela retomada do crescimento e desenvolvimento do país, espera-se que o tema ganhe relevância. 



(*) Vital Jorge Lopes é diretor presidente da Log-ln Logística Intermodal
 

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