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Quando começam os ‘últimos dias’ em qualquer cargo?

Fonte: O Estado de S. Paulo / Leonardo Trevisan (*)
 
O engano começa na imaginária estabilidade nos cargos. O tempo médio de permanência é cada vez mais curto.

 
O conselho parece sensato: a saída de um cargo é quase tão importante quanto a chegada. A constatação influencia a carreira de qualquer um. Só não é muito praticada. Na empresa, pensar na hora da saída, apenas, “não interessa”.
 
Erro grave e sem fronteira. Artigo da The Economist (edição de 7/02), com o título “Os últimos 90 dias”, mostra como é difícil saber sair. Desta incompetência não escapou nem Maquiavel, que não saiu “ileso” do governo de Florença. Maquiavel, notou a Economist, sabia como conquistar bem o poder, mas não como e quando deixá-lo.
 
O engano começa na imaginária estabilidade nos cargos. O tempo médio de permanência é cada vez mais curto. A contínua pressão das ondas tecnológicas expulsa, com rapidez crescente, pessoas de suas funções. Inclusive, os que se julgam estáveis por competência específica. Automação não respeita diplomas. Seja de quem for. Ponto.
 
É preciso ter consciência de que a sucessão começa, talvez, na chegada ao cargo. Mudanças tecnológicas e de mercado não param. Educação continuada, claro, é o melhor preparo para toda saída organizada. Só que nos parâmetros certos. O cenário de capacitação está em rápida mutação. Buscar maior empregabilidade no mesmo ciclo tecnológico é só mais do mesmo.
 
O problema da sucessão nos cargos também é, essencialmente, da empresa. Preservar rituais de desenvolver pessoas ajuda, mas não é suficiente. No Brasil, a prática dos “mapas sucessórios” é restrita aos cargos de alta direção.
 
Poucas vezes atinge gestores médios, quando deveria ser preocupação generalizada. Há literatura consolidada para lidar com este conceito.
 
Resta saber, o que fazer nos “últimos 90 dias”? Apesar do foco nos cargos mais altos, a Economist listou algumas regras. Enquanto a situação permitir, vale tentar não agir de forma nem lenta, nem apressada, com a premissa de que ficar muito tempo na função, depois dos “sinais”, aumenta o risco de fazer bobagem.
 
Com dois avisos inesquecíveis da revista: não tome “grandes decisões” nos últimos 90 dias (será sempre pior) e ajude na transição do novo ocupante. Não tente ofuscá-lo. Motivo: é inútil e só aumenta o desgaste. Bons conselhos? Sensatos, com certeza.
 


(*) Leonardo Trevisan, professor da PUC
 

 


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