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Construção naval rumo ao sucesso

Fonte: Monitor Mercantil / Ariovaldo Rocha (*)



Os brasileiros de bom senso fazem uma avaliação comum sobre as eleições. Aprovam o modelo trazido por Lula e Dilma, mas, em razão da expressiva votação da oposição, demonstram que querem alterações em muitas áreas sensíveis. Pode-se dizer que pontos positivos – na visão da maioria dos eleitores – são a preocupação com emprego, a proteção mínima aos pobres e a ampliação do público consumidor, com expansão da classe média.
 
Já os pontos em que a opinião pública exige mudanças são o controle da inflação, a política cambial e uma diretriz externa que se dirija com mais intensidade a mercados prósperos, como Estados Unidos e União Européia.
 
O caso da construção naval é muito especial. O setor viveu euforia nas décadas de 70 e 80 e entrou em gigantesca depressão a seguir, a ponto de, em 2002, os estaleiros não somarem sequer 2 mil empregados diretos. A política vigente era a de compra de navios e plataformas no exterior, o que, a curto prazo, implicava preço teoricamente menor, mas, na prática, incluía atrasos, reajustes inexplicáveis, pagamento sempre em moeda forte e, o pior de tudo, geração de empregos pelo mundo afora. Houve até o caso de um estaleiro do Canadá que fechou as portas, obrigando a Petrobras a transferir a obra para a Ásia, a preços supostamente astronômicos.
 
Com o presidente Fernando Henrique Cardoso, o Fundo de Marinha Mercante (FMM), criado em 1958 por Juscelino Kubitschek para financiar o setor, tinha 90% de seus recursos sugados para pagar juros da dívida. Os metalúrgicos buscavam formas de ganhar a vida que, em alguns casos, incluíam a camelotagem, enquanto os engenheiros da área se deslocavam para outros setores, quase apagando a memória da atividade.
 
Em 2003, Lula traçou as normas para reativação do setor: preservação do FMM, garantia de recursos adicionais, plano da Transpetro para 49 navios e encomendas de navios-sonda e plataformas. Uma clara política de conteúdo nacional.
 
Hoje, o setor conta com mais de 380 obras. Só do Japão, quatro grupos estão investindo no setor. Novos estaleiros são criados por todo o país – espalhando uma riqueza antes concentrada no Rio de Janeiro. E, para o futuro, a expectativa é mais reluzente ainda, com possibilidade de obras de ate US$ 100 bilhões. Só a Petrobras tem necessidade de 56 plataformas. E, após Libra, virão outros campos do pré-sal.
 
Caso houvesse vitória da oposição, surgiria um dilema. Os grandes grupos internacionais não se contentam com o conteúdo nacional e estimulam editoriais de grandes jornais a favor da importação de navios e plataformas. Fatalmente, a construção naval conseguiria ver seus argumentos serem vitoriosos, mas os representantes do novo governo teriam de ser convencidos de que o interesse do Brasil seria não voltar a um triste passado.
 
Com mais quatro anos de Dilma Rousseff, a construção naval terá tempo para confirmar sua eficiência e partir para uma nova etapa, que é oferecer preços competitivos e de confirmar sua perenidade, ao iniciar exportações para países vizinhos e para a África.
 
Muitos acusam os estaleiros de cobrarem valores altos, mas deve-se levar em conta o período de aprendizagem, após uma década em que as máquinas ficaram com teias de aranha; a reconvocação de homens e o gasto para seu ensino; o obstáculo representado pela política cambial, que manteve o real valorizado por longo tempo, dificultando a competição nacional; e, por último e não menos importante, o Custo Brasil, que tanto aparece nas energia elétrica, no pessoal – em comparação com a China – no preço do aço e em quase todos os itens nacionais. A construção naval tem isenção de tributos, mas é praticamente impossível se retirar impostos de itens comprados pelos estaleiros, no mercado nacional.
 
Portanto, a nova construção naval, com tecnologia de primeiro mundo, certamente acabaria por convencer qualquer governante a apoiá-la, mas, com a continuidade, o setor terá mais tranquilidade para se aprimorar e, cada vez mais, trazer mais benefícios para a sociedade.
 
Dentro desse espírito, o setor promove, neste fim de ano, nova edição do Prêmio Naval de Qualidade e Sustentabilidade Acurcio de Oliveira (PNQS), que envolve qualidade e inovação, desenvolvimento sustentável, respeito ambiental e responsabilidade social, valores atribuídos às boas práticas corporativas. É a busca da eficiência com respeito à sociedade.

 


 
(*) Ariovaldo Rocha, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval).
 
 

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