Artigos e Entrevistas

A pujança dos portos americanos

Fonte: Portos e Navios / Blog da Hidrovia / Jose Allama (*)



No XXIII Congresso da Associação das Autoridades Portuárias Americanas (AAPA) realizado em Pue rto Iguazú, na Argentina, tive oportunidade de representar a ANTAQ como conferencista em painel sobre hidrovias e portos fluviais, no período de 26 a 29 de agosto.
 
Fundada em 1912, a AAPA representa portos dos Estados Unidos, Canadá, América Latina e do Caribe. Sua missão é promover os interesses comuns da comunidade portuária e fomentar a liderança nas áreas do comércio, o transporte, o meio ambiente, o desenvolvimento portuário e às suas operações. Dedica-se a conscientizar a sociedade sobre o papel dos portos no sistema global de transporte. Congrega os portos públicos de grande calado do hemisfério ocidental, portos fluviais, operadores portuários e terminais privados.
 
Nesse encontro anual da cúpula dos portos estavam presentes delegações de 16 países. Foi estruturado com programações acadêmica e social, incluindo área de exposição para reuniões de negócios e permitiu forte intercâmbio entre os principais atores públicos e privados do segmento portuário mundial.
 
Na parte acadêmica o tema central foi “A Integração hemisférica dos portos latino-americanos como chave para o desenvolvimento regional”. Em vários painéis, representantes de diversas nacionalidades discutiram temas como a economia mundial e seu impacto no negócio portuário internacional; os portos latino-americanos e sua integração continental e mundial; os portos argentinos e sua integração com a América Latina e o mundo; Estratégias de sustentabilidade ecológica de operadores portuários na AL e a agenda portuária para integração econômica e segurança global.
 
De modo inédito, em 2014, a AAPA priorizou temáticas relacionadas às hidrovias e portos fluviais, tendo em vista sua importância para as economias de muitas nações do hemisfério ocidental.
 
Assim, em dois painéis denominados “hidrovias e portos fluviais como ferramentas de conectividade e desenvolvimento regional” participaram conferencistas e mediadores da França, Colômbia, Paraguay, Argentina, Uruguay e Brasil. Minha exposição foi composta por 5 blocos: i) a necessidade de ruptura dos bloqueios mentais (fator cultural) que impedem a adoção de um novo modelo no setor aquaviário; ii) Os principais números do Brasil, fatos e tendências; iii) uma visão sobre a ANTAQ, objetivos e competências; iv) Razões para o uso da hidrovia, dimensões no Brasil e potencial de uso; e, v) Principais obstáculos brasileiros e perspectivas.
 
Como síntese dos temas acadêmicos merecem destaques as seguintes informações:
 
Projeto do Canal Interoceânico da Nicarágua: 263 km de extensão (construção China e Rússia). Polêmica com ampliação do canal do Panamá, no final de 2015.
 
 Operador portuário - Panamá: Todos viraram “amigos do verde”. Tem-se que fazer mais, mais rápido, atender melhor, com mais qualidade, segurança e meio ambiente, sem elevar tarifas. Grandes desafios. Apólice para cobrir acidentes. Mas, navio porta contêiner migrou de 4.500 para 18.000 TEU´s. Crescerá para 22.000/24.000 TEU´s em breve. Maior o navio, maior o problema.
 
• Porto de Miami. Um em cada oito cruzeiros, faz Miami. Segurança tornou-se vital. Vende 18 meses antes. Qualquer ocorrência, vendas caem. Anos 80 havia até rinha de galo no porto. Mudança radical em 2005. Hoje 900 câmeras de segurança, uma agência de controle. Total de 2.000 câmeras em 120 acres de terra. Nos EUA, custos logísticos representam 9% de tudo que se faz. Crescimento dos processos de Certificação ISPS Code.
 
 Estrategista EUA. Parte 1 - Pesadelo 2008 está passando. Taxa de crescimento determina o comércio. Na América Latina o crescimento médio é maior que na Europa. Comércio vai crescer 8-10% a.a. Contêineres 5-7% a.a. Navios com 18.4 mil TEU´s. Uma viagem com carga de sapatos, calça a população da Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Panamá e ½ Venezuela. Revolução energética com Shale gás dos EUA. 25% da frota mundial terá combustível em gás. Maior crescimento transbordos e navios. Precisará dobrar capacidade dos portos.
 
 Estrategista EUA. Parte 2 – Aliança porto-cidade foi boa até séc. 19, hoje há divórcio. Conteinerização gerou navios maiores, mais terminais, mais áreas. Euforia acabou. Cidades sem orçamento. Querem financiamento. Autoridade Portuária fácil de ser atacada. AP precisa de defender sua missão: viabilidade corporativa. Precisa atuar como negócio. Operações rentáveis precisam proteger AP. Cidades não entendem a dinâmica e desafios enfrentados pelos portos. Cidades globais são cidades portos. Não tem como remover o porto de Roterdã, então melhor é assumir parceria.
 
• Puertos del Estado (Espanha). Situação mundial sem liderança. EUA/China? Integração regional. Europa, 28 países. América Latina não avança. Tendências de consolidar navios, companhias; racionalizar rotas, diminuir paradas e custos operacionais, descargas/ interface modal. Navios com 22 mil TEU´s, 460 m de comprimento. Portos inteligentes, não só na costa, mas “off shore”.
 
 Argentina pretende criar porto de águas profundas na localidade de Punta Índio, (bacia do Rio da Prata), como porto concentrador de cargas a granel. Consórcios para gestão de portos, em aplicação em portos latino-americanos.
 
• Interessante Programa de Capacitação da AAPA: Gerente Portuário Profissional (PPM), em nível de pós-graduação, à distância.
 
Comparando-se a situação atual dos portos brasileiros e o panorama portuário americano exposto no evento verifica-se a abordagem de problemas, estratégias e soluções similares aos enfrentados ou adotados no Brasil, tais como:
 
 Conflitos e sinergias na relação porto-cidade, decorrentes de operações portuárias, uso de áreas, desenvolvimento econômico, congestionamentos, desempregos decorrentes de novas tecnologias e processos, comércio exterior questões ambientais, entre outras;
 
 Esgotamento da capacidade de investimentos públicos, expansão do capital privado na infraestrutura aquaviária e portuária e na movimentação de carga, com introdução de ajustes nos marcos legais nacionais e de novos modelos de gestão, na busca por produtividade e competitividade;
 
 Aumento da escala dos navios, com necessidade de ampliar e melhorar a infraestrutura dos portos, dos processos, a eficiência energética, segurança e proteção ambiental, com redução de custos.
 
Conclusão
 
Surpreendeu-me a pujança da comunidade portuária da AAPA e, em especial, o nível de reconhecimento da ANTAQ como autoridade brasileira, demonstrado por alguns congressistas. Manifestaram admiração pela progressiva evolução do Brasil, sua realidade atual e potencial do país. Destacaram o sítio da ANTAQ como referência em informações relevantes do setor portuário e aquaviário e o representante da ANNP (Paraguay) solicitou manter contato e troca de informações com ANTAQ, pois têm intenção de criar um ente regulador no transporte aquaviário daquele país e buscam experiências de sucesso.
 
Em que pese toda essa pujança e crescimento diferenciado de economias latino-americanas nos últimos anos (Paraguay, 13% em 2013), percebem-se fragilidades nas relações comerciais dos países latino-americanos, agravadas por sérias dificuldades na articulação de avanços como bloco econômico regional. No congresso, foram visíveis os desconfortos entre Argentina, Uruguai e Paraguay, relativamente às operações de transbordo de cargas na bacia do rio da Prata e à hidrovia Paraná/Paraguai.
 
Por fim, registre-se a elaboração da “Declaración Del Iguazú” (acessível no link abaixo), consolidada pela Delegação Latino-Americana da AAPA, organizadora do congresso, a qual apresenta os pontos chaves debatidos e que devem ser aprofundados e complementados com ações de integração entre os países, a fim de promover o crescimento e desenvolvimento sustentável dos portos americanos, de forma que evoluam como componente essencial para a geração de riqueza, progresso e prosperidade de todos os continentes.
 
Por tudo isso, ressalto que foi uma oportunidade ímpar a participação em evento dessa magnitude. O próximo já está marcado. Será em Arica, no Chile, em 2015.
 

 
(*) Jose Allama é especialista em Regulação dos Serviços de Transporte Aquaviário da Antaq
 

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