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'Mercado de trabalho pode ter ressaca pós-Copa', diz codiretor do Morgan Stanley

Fonte: O Estado de S. Paulo



Depois do resultado decepcionante da criação de empregos em maio, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o codiretor de economia para América Latina do banco Morgan Stanley, Arthur Carvalho, alerta para o risco de "ressaca" no mercado de trabalho após a Copa do Mundo, quando poderá ocorrer a eliminação das vagas temporárias para atender à demanda do maior evento esportivo do ano no Brasil.
 
"Parece realmente que o mercado de trabalho está perdendo fôlego", diz Carvalho, economista com mestrado pela London School of Economics. O saldo líquido de 58.836 vagas criadas no mês passado é o pior em 22 anos. "Em 2015, cenário será mais desafiador."
 
Recentemente, Carvalho revisou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2014 de 1,5% para 1%. Para 2015, ele espera agora uma expansão de apenas 0,9%, em comparação com a estimativa anterior de 1,1%. A seguir, trechos da entrevista.
 
O sr. reduziu recentemente a sua projeção para o crescimento do PIB brasileiro em 2014 de 1,5% para 1% e em 2015 de 1,1% para 0,9%. Há o risco de o crescimento ser ainda menor? E quais seriam os maiores riscos para a atividade econômica neste ano?
 
Para 2014, estou bastante confortável com minha projeção, pois já adicionei não somente um começo de ano mais fraco, como também uma previsão menor do crescimento para o resto do ano, assumindo que a queda de confiança observada recentemente vai se materializar em investimentos mais fracos do que se esperava. Há riscos de os investimentos serem ainda mais fracos dada a velocidade da queda da confiança. Porém, é prematuro reagir aos índices de confiança e traduzir isso no número do PIB porque já houve outros episódios em que os indicadores de atividade da economia não reagiram tão violentamente quanto os índices de confiança.
 
A criação de vagas apurada pelo Caged vem perdendo fôlego nos últimos meses. Como o sr. vê o mercado de trabalho, em termos de geração de empregos, taxa de desemprego e evolução da massa salarial, no segundo semestre deste ano?
 
O mercado de trabalho está mostrando pela primeira vez sinais claros de desaceleração, que combinam com os dados de confiança que estamos observando. As empresas industriais, onde a confiança está caindo mais, estão, de fato, demitindo. Agora, parece realmente que o mercado de trabalho está perdendo fôlego. Pós Copa do Mundo, há um risco maior de haver uma ressaca, com demissões de funcionários temporários ligados a operações logísticas e de turismo. Poderemos ver, sim, um início da alta da taxa do desemprego. Não creio que seja nada muito violento, pois ainda há renda real que mantém demanda por serviços, etc. e vai suavizar esse processo. Mas haverá alguma alta da taxa dessazonalizada de 4,6% de desemprego que estamos vendo. Em 2015, o cenário será mais desafiador.
 
Apesar da desaceleração da atividade econômica, a inflação e as expectativas inflacionárias continuam em patamar elevado. Esse quadro forçará o BC a elevar os juros ainda este ano ou há risco de corte da taxa Selic se a economia continuar fraca?
 
O problema está nos preços livres. Eles estão em patamar elevado e relacionados a um mercado de trabalho que não dá sinais de que a taxa de desemprego vá subir tanto e de que os salários vão desacelerar o suficiente para alimentar uma inflação de preços livres mais baixa do que hoje. Juntando isso com a falta de ancoragem das expectativas até agora, acho difícil o BC passar por um processo de reajuste dos preços administrados - que parece inevitável no começo de 2015 ou no fim deste ano, após as eleições - sem algum tipo de ajuste na Selic. Na nossa projeção, a inflação bate 7% no primeiro trimestre do ano que vem.
 

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