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Como evito erros na escolha da carreira pós-PDV?

Fonte: Valor Econômico / Karin Parodi (*)
 
Sou engenheira química e trabalho há 35 anos em uma grande empresa brasileira que opera em diversos países. Apesar da formação, sempre atuei como analista de comercialização e de logística na área de biocombustíveis e derivados de petróleo. Foi uma experiência rica e tive o reconhecimento ao longo da minha carreira como consultora e coordenadora. Recentemente, me inscrevi no plano de demissão voluntária (PDV) da companhia e espero sair em breve. Farei 59 anos e não me vejo parada em casa. Não tive filhos e, ao longo da vida, tenho apreciado diversas atividades como dançar, pintar, mergulhar, velejar, viajar, cozinhar entre outras. Procuro por uma atividade que me dê prazer e retorno financeiro, mas não gostaria de voltar a ter horário fixo das 8h as 17h. Estou fazendo curso de sommelier com o intuito de, no futuro, usar minha experiência profissional para comercializar vinhos. Fico em dúvida, no entanto, se acharei gratificante. Como posso decidir corretamente a minha nova profissão?
 
Analista de comercialização e logística, 59 anos
 
Resposta:
 
É um prazer receber uma pergunta como a sua. Explico o porquê: fico orgulhosa ao ver mudanças - no seu caso, a saída do mundo corporativo - que são planejadas e autodeterminadas, não um golpe do destino. Também me encanta saber que alguém mantém várias atividades complementares ao pilar profissional. Além do mais, você se mostra consciente do muito que ainda tem a contribuir para o mundo dos negócios, e assim continuará a ter realização profissional, a sentir-se necessária, a manter a autoestima elevada. Seu comportamento é exemplar.
 
Respondendo logo a sua questão: é, sim, perfeitamente possível planejar uma segunda e/ou uma terceira carreira levando em conta interesses, necessidades, oportunidades e riscos. Isso é cada vez mais fácil, inclusive, por uma mudança de contexto. Se fizéssemos uma fotografia panorâmica dos brasileiros em uma fase de transição similar a sua, sabe o que veríamos? Um aumento significativo do número de pessoas nessa situação, ano após ano, uma queda generalizada do preconceito com a idade e com a palavra "aposentadoria" - o preconceito está fora de moda - e a percepção de que essa é apenas mais uma das transições do ciclo natural da vida. Sua fase tem sido crescentemente vista como "empolgante", por representar um excelente momento para escolhas.
 
Essa transição, assim como qualquer outra, exige conhecimento, preparação, planejamento, avaliação de possibilidades e definição clara de um ou mais objetivos. É assim que desenhamos uma visão do futuro que levará ao desenho do novo projeto de vida. Dois fatores relevantes que você menciona com convicção são o prazer e a expectativa de retorno financeiro, não é? Pois o cruzamento desses dois itens já direciona algumas escolhas.
 
Encare isso como um desafio. Se você tem uma bagagem de 35 anos sendo desafiada intelectualmente, use-a a seu favor. Fazendo um livre exercício de ideias, se o desafio intelectual lhe dá prazer tanto quanto um bom vinho, a opção "consultoria", que reúne desafio intelectual e retorno financeiro, é uma oportunidade. A grande ameaça nesse caso gira em torno de sua capacidade de vender os próprios serviços, já que a entrega não é um problema - o contrário do que seria, por exemplo, para profissionais com carreira em vendas.
 
Outra opção seria dar aulas sobre algum assunto que você domine bem. Também reúne prazer e retorno financeiro, mas, dependendo do curso, exigirá uma preparação específica que leva algum tempo, que pode ser cursar um mestrado ou um MBA. Isso lhe daria prazer? Você tem condições e recursos para arcar com o investimento? Não chega a ser uma ameaça à oportunidade (educação é necessária e vive um boom no Brasil), mas é uma fraqueza a ser convertida em força.
 
Há ainda a opção sommelier, que, a meu ver, requer mais tempo de reflexão, pois é uma mudança mais radical. Sugiro que continue estudando o fascinante mundo dos vinhos e adquirindo conhecimentos que lhe darão mais elementos para tomar decisões, incluindo uma quarta opção, a de empreender um negócio próprio.
 
A caminhada por essa estrada decisória tem dez pedágios: (1) Pare e reflita sobre quais são seus interesses na vida e características pessoais; (2) Crie a sua visão de futuro, projetando o cenário da sua vida na aposentadoria; (3) Em seu projeto de vida, considere todas as dimensões envolvidas (trabalho, finanças, saúde, lazer, relacionamento familiar e social, cultura e aprendizagem, espiritualidade e lado emocional); (4) Faça uma autoavaliação de como você cuida hoje das dimensões da sua vida e identifique os pontos fundamentais para o seu projeto de vida e que merecem ser priorizados; (5) Busque informações a respeito de suas propostas de planejamento de vida; (6) Estabeleça um plano de ação que vai contribuir para que a sua visão de futuro se torne realidade; (7) Elabore o seu orçamento de despesas pessoais na condição de aposentadoria e estabeleça a sua meta pessoal de orçamento; (8) Trace um planejamento para os seus investimentos pessoais coerente com o momento de vida (fuja dos altos riscos); (9) Mantenha-se atualizada e atuante socialmente; (10) Implemente o seu plano de ação, fazendo o monitoramento dos resultados e ajustes necessários.
 
Uma última observação: ser consultora ou dona de negócio é mais difícil do que se imagina, pois demanda não apenas ter um perfil adequado, mas persistência, um mercado comprador, preparação e vontade de correr riscos financeiros. Assim, você deve ter táticas na manga se optar por consultoria, por exemplo, oferecendo seus serviços inicialmente não ao mercado, mas a outras consultorias. Você pode começar como associada e assim aprender. Sou otimista em relação à sua segunda e/ou terceira carreira: só pode dar certo com essas medidas em mente, pois sensatez você tem de sobra! Boa sorte!
 

 

(*) Karin Parodi é fundadora e sócia-diretora da Career Center e presidente da Arbora Global
 

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