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Experiência renovada interessa ao mercado de trabalho

Fonte: Valor Econômico / Renato Bernhoeft (*)

O aumento da longevidade da população no Brasil apresenta desafios e oportunidades para todos que já ultrapassaram meio século de vida. Muito da capacidade para encarar de forma positiva essa nova fase depende de como cada um lidou com seu passado e presente. Mas, acima de tudo, como visualizou e agiu em relação ao que esperava do seu futuro.
 
A palavra “experiência” permite várias interpretações. Quando alguém afirma que possui “30 anos de experiência”, isso pode significar, apenas, a mesma experiência repetida 30 vezes. Mas, em alguns casos, ela pode representar a experiência que se renovou por 30 vezes. Ou mais.
 
E isso não serve apenas para a  carreira, mas também na forma como vivemos e encaramos nossos outros papéis: conjugal, familiar, social, educacional, individual, entre outros. Não basta ter sido um profissional brilhante e fracassar nos demais papéis da vida. O saldo dessa trajetória deverá apresentar sua “cobrança” a partir da meia-idade.
 
Essa reflexão se torna mais importante a cada dia, na medida em que o mercado de trabalho volta o seu olhar para a contratação de pessoas que ultrapassaram os 50 anos. Mas, ao mesmo tempo, essa busca é por profissionais com capacidade não apenas de ensinar, mas também de continuar aprendendo e se renovando continuamente.
 
Estudos já mostram que os mais idosos apresentam um índice maior de lealdade com as corporações do que as pessoas mais jovens. Números levantados pela consultoria Aon Hewitt numa pesquisa recente sobre as variáveis tempo de casa e idade mostrou que “o engajamento cresce com a maturidade. Até os 29 anos de idade do profissional, seu percentual é, em média, de 68%. O índice sobe para 75% ente os 30 e 65 anos e atinge 90% depois dos 66 anos.”
 
É evidente que a lealdade corporativa não é a única variável que pesa a favor dos idosos. Ela deve vir acompanhada de outros indicadores que tem sido  mais valorizados pelo universo corporativo. Compreensão da cultura organizacional, algum grau de ambição, flexibilidade para aprender e inovar, habilidade didática para ensinar, preparo de sucessores e uma visão atualizada do mercado nacional e internacional fazem parte dessas novas demandas.
 
Muitos dos atuais cinquentões foram educados na cultura de que era importante trabalhar duro para, um dia, mais à frente, poder desfrutar de uma aposentadoria tranquila. Só que isso não aconteceu. Deixaram de equilibrar trabalho e desfrute, descuidaram da vida pessoal e familiar, além de terem pouco cuidado com a saúde. E a “fatura” chegou agora.
 
Além de não terem a quem culpar, percebem que continuar trabalhando não é apenas uma questão relacionada ao desejo de manter seu padrão de vida financeiro. É também uma forma de preservar sua autoestima, dar sentido para a vida e até mesmo fugir da depressão ou dos inevitáveis conflitos pessoais (e conjugais) dessa fase. Afinal, o ninho já está vazio e não é justo “prender” os filhos por perto como forma de preencher o vazio afetivo para o qual muitos não souberam se preparar. 
 
O mercado de trabalho não se amplia apenas para a chamada geração Y, mas é crescente em oportunidades para os idosos que ainda procuram novos desafios e realizações para uma vida plena.



 

(*) Renato Bernhoeft é fundador e presidente do conselho de sócios da höft consultoria.
 

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