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Urgência na logística de transportes

Fonte: O Estado de S. Paulo / Carlo Lovatelli (*)
 
 
Em 2014, uma nova safra recorde de grãos continuará alçando o Brasil à posição de celeiro do mundo. Serão mais de 190 milhões de toneladas de grãos, das quais 86 milhões de toneladas de soja, a principal cultura agrícola do País, e cerca de 80 milhões de toneladas de milho.
 
O planeta demanda os produtos brasileiros, os agricultores produzem como esperado, mas a logística trava as operações. O setor privado tem pressa em resolver os entraves que dificultam o escoamento de safras do polo produtor do Centro-Oeste aos portos do Sudeste e do Sul e inviabilizam as saídas para o Norte e o Nordeste.
 
O governo tem conhecimento das necessidades nessa área, haja vista os planos plurianuais concebidos desde a década de 1990, além de relatórios de mesmo teor divulgados nos últimos anos. As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são um bom exemplo na história recente, mas, na prática, o governo tem frustrado as expectativas do agronegócio do País.
 
Elemento que retrata o descompasso entre as demandas do setor produtivo e as ações idealizadas em Brasília é o Plano Hidroviário Estratégico (PHE), do Ministério dos Transportes. O lançamento desse plano passou despercebido no dia 11 de outubro, em contraste com a expectativa com que foi aguardado. Presentes ao evento, especialistas das maiores empresas e entidades de classe de vários setores, entre eles o agronegócio. Foi uma demonstração de interesse em soluções urgentes para a infraestrutura de transportes.
 
Os participantes esperavam ouvir do governo o que será feito para acabar com os gargalos logísticos do País no modal hidroviário. Projeções de demanda, restrições ambientais e vulnerabilidades sociais foram levadas em conta para mostrar as hidrovias prioritárias e as de maior dificuldade de implementação. Porém, o que foi dito trouxe pouca novidade aos presentes.
 
O setor produtivo vive as restrições impostas pela logística nacional deficiente e sabe o que precisa ser feito. Por isso, o maior questionamento na plateia foi sobre a capacidade do governo de executar medidas emergenciais e de longo prazo. Ao rebater as dúvidas e inquietações apresentadas pelo agronegócio, técnicos do Ministério dos Transportes exaltaram a importância do planejamento e sinalizaram que as expectativas deveriam ser moderadas, pois o trabalho era só o início de um processo de melhorias em logística.
 
Não se deve creditar as críticas ao planejamento em si. Este é bem-vindo e deve ser continuamente aprimorado e atualizado. Mas a solução do gargalo logístico não pode mais ser adiada, porque já limita investimentos na área produtiva e tolhe a competitividade internacional do Brasil.
 
Após um início de ano turbulento, em que os fretes de soja de Mato Grosso aos Portos de Santos ou Paranaguá (2.200 Km) chegaram a US$ 150/ tonelada no pico da colheita, e das estimativas de safra recorde em 2014, continua o descompasso entre a expectativa de resolução de problemas aguardada pelo agronegócio e a lentidão das ações governamentais. É importante destacar que esse valor de frete "come" 27% da receita obtida pelo produtor.
 
Nos EUA, principal concorrente internacional do Brasil, os modais mais utilizados para a exportação de soja são o ferroviário e o hidroviário. Mesmo com a seca severa que reduziu a capacidade da hidrovia do Mississippi, em 2012, os EUA conseguiram movimentar grãos a tarifas bem mais baixas do que as nossas. Um exemplo: a tarifa média por tonelada de Twin Cities (MN) a New Orleans (LA) chegou a US$ 39,62 para um trajeto de cerca de 1.900 km. Esse valor representa 7% da receita auferida pelo produtor.
 
As projeções de longo prazo indicam que ainda temos muito a crescer na produção agropecuária, pois a demanda por alimentos só se expandirá nos próximos anos. Não há mais tempo a perder: ou o governo executa as obras de logística ou deve dar as condições institucionais, legais e econômicas para que o setor privado as realize.
 
 

 

(*) Carlo Lovatelli  é presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE)
 

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