Artigos e Entrevistas

Desafios do Movimento Sindical

Fausto Figueira (*)



Passado 60 anos comemora-se, e há muito o que comemorar!
 
Recebi o convite da Federação Nacional dos Portuários para juntos refletirmos sobre o momento que vivemos, o que me enche de orgulho, como militante e morador de Santos, cidade que abriga o maior porto do País, “cidade vermelha”, (hoje nem tanto), que gestou os primeiros movimentos sindicais, embalados pela imigração italiana, que trouxe os anarquistas, que embasaram a formação dos nossos sindicatos.
 
Federação Nacional dos Portuários, 60 anos! Pela cabeça de cada um dos dirigentes sindicais, que aqui se reúne na capital federal, seguramente passa o filme da formação de nossos sindicatos, da luta dos trabalhadores, a CLT promulgada por Getúlio Vargas em 1943, a fixação de jornada de trabalho de 8 horas, o reconhecimento dos sindicatos, a proteção do trabalho das mulheres, a implantação do salário mínimo. Os trabalhadores portuários já naqueles idos foram vanguarda destas conquistas, e assim já em 1945, organizaram boicote mundial na resistência ao governo franquista, na guerra civil espanhola.
 
Foram, nos idos dos anos 60, os trabalhadores portuários pioneiros na formação daquilo que hoje são as nossas centrais sindicais, unificando trabalhadores de diferentes categorias em movimentos solidários, criando o Plano de Unidade de Ação, criando a Intersindical.
 
Com o golpe militar de 64, sofre o Movimento Sindical perseguição implacável. Fomos testemunhas da violência das intervenções em nossos sindicatos, a suspensão arbitrária do seu funcionamento, a prisão e a tortura de nossos líderes, tendo como símbolo maior o ancoramento do navio Raul Soares no estuário de Santos, transformado em prisão flutuante.
 
É importante lembrarmos que o apelo para o golpe militar de 64, partiu da mesma imprensa dominada pelos mesmos grupos familiares que hoje ainda dominam a nossa mídia, a mesma imprensa familiar que produziu passeatas como a “Marcha com Deus”, e que agora tenta pautar os movimentos de protesto. “Ditabranda”, arrependimento? Nós sabemos quem são eles!
 
Fundamental ficarmos atentos,continuarmos atentos, porque coube ao Movimento Sindical a resistência à ditadura, e cabe agora ao Movimento Sindical o papel de guardião da democracia.
 
Nossos opositores, a elite de nosso País não se conforma que um peão, operário, tenha tirado da miséria 30 milhões de brasileiros, que tenha proporcionado acesso a 3 milhões de filhos de operários, com o ProUni, às nossas universidades, que este governo popular tenha ressuscitado nossas escolas técnicas. As nossas elites não aceitam que um presidente operário tenha implantado uma política exterior soberana, que não fiquemos mais de quatro para o FMI, e que eleja sua sucessora. O “presidente professor” repleto de diplomas quebrou o nosso Brasil!
 
Cabe ao movimento sindical um papel muito maior que somente a luta coorporativa, legítima, e que não pode ser descuidada, a luta por melhores salários, melhores condições de trabalho. Hoje o Movimento Sindical faz a luta de suas categorias, num contexto de pleno emprego, quando em governos passados, vivíamos o desemprego e éramos recebidos em Brasília pela cavalaria.
 
Apesar do índice de aprovação do Presidente Lula, ganhamos a última eleição por pequena margem de 5% dos votos. É papel do Movimento Sindical a organização dos trabalhadores, mas é seu papel também a cumplicidade com os movimentos sociais.
 
Os sindicatos tem que participar ativamente da luta e da organização dos movimentos sociais. É importante colocarmos à disposição dos movimentos sociais a estrutura dos nossos sindicatos. Não basta participarmos da luta de nossa categoria.
 
É preciso tomar partido, é preciso ter partido. Temos lado! É preciso mostrar que temos lado e que a democracia corre frequentemente risco.
 
O Supremo Tribunal Federal não pode continuar legislando, não pode ser pautado pela mídia, não pode julgar baseado no “clamor popular”. Se nos calarmos diante do linchamento imposto a valorosos companheiros, que foram nossos cúmplices na reconstrução da democracia e na construção do nosso governo popular, seremos os próximos a sermos silenciados!! Não é preciso a palavra do Dr. Claudio Lembo, do Dr. Ives Gandra ou Nelson Jobim para sabermos que o julgamento do chamado “mensalão” foi uma farsa!
 
É papel também do Movimento Sindical, enfrentar os governos quanto ao seu discurso tecnicista, de que a gestão da coisa pública é “técnica”. A gestão é política, eminentemente política! O enfrentamento é político! Temos de cobrar capacidade de nossos gestores, mas a satanização da política serve a quem? O presidente Lula, além de torneiro mecânico é técnico do que?
 
Foi ele sem diploma algum, sem cabedal técnico nenhum, mas com profunda visão humana e política, que ele, Lula, virou o nosso País, reduziu desigualdades, incluiu, deu oportunidades aos menos favorecidos, fez o Brasil crescer, quando o mundo desabava, gerou emprego,enquanto o mundo desempregava, devolveu ao estado o papel de protagonista do desenvolvimento. Não esperamos o bolo crescer para depois distribuir!
 
É preciso fazer política, disputar espaços, não compactuar com o senso comum de que nossos portos são ineficientes, quando sem acrescentar praticamente nenhum metro de cais, batemos seguidos recordes de movimentação de cargas e alavancamos nossa Balança Comercial.É imperativo fazer a disputa com nossos adversários!
 
Como se calar diante da afirmativa do governo do Estado de São Paulo, de que o governo federal é incapaz, de que não investe em infraestrutura, quando vivemos no Porto de Santos, por absoluta incompetência do Governo do Estado, colapso do sistema de acesso ao Porto. Governo de Estado, que foi capaz de construir a segunda pista da Rodovia dos Imigrantes somente para carros de passeio, condenando o maior porto da América Latina a receber por ano, as cerca de 3.500.000 (três milhões e meio) de carretas pela Via Anchieta, estrada construída pelo Governador Adhemar de Barros em 1945!!
 
O Governo Federal, o nosso governo, aprofundou e alargou o canal de acesso, retirou pedras do estuário, retirou navio naufragado há 35 anos, construiu avenidas perimetrais, e não foi capaz sequer de fazer a inauguração destas obras!
 
As disputas políticas e de comunicação tem que ser feitas, e não serão “técnicos” que farão esta disputa. Temos nós e que fazê-las!
 
Ganhamos as eleições, mas não ganhamos o governo! É papel do Movimento Sindical fazer o tensionamento necessário com o poder! Não pode o Movimento Sindical transformar-se em “movimento chapa branca”. É preciso buscar participação na gestão da Secretaria Especial de Portos, na gestão de nossos portos. Qual é o representante do Movimento Sindical nesta gestão? É preciso buscar estes espaços!
 
Meus companheiros portuários. O Movimento Sindical, aqui celebrado nestes 60 anos da Federação Nacional dos Portuários,tem cumprido exemplarmente a sua tarefa. Orgulho-me em testemunhar e participar destas lutas, e comemoro com cada um dos trabalhadores dos portos brasileiros, estes 60 anos de sua história! 
 
O desafio que nos é imposto é o desafio da sociedade, que pede que nossos sindicatos participem de suas lutas, e que não se perca a batalha da comunicação com o povo brasileiro.
 
Nossas lutas não se encerram com conquistas trabalhistas. Nossas lutas têm o compromisso maior com uma sociedade mais justa, com o compromisso com a democracia!
 
Este é o nosso desafio, é o desafio do Movimento Sindical Brasileiro!




(*) Fausto Figueira, assessor da presidência da Codesp e ex-deputado estadual pelo PT-SP

 


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