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Xingar Dilma é coisa do Paulinho da Força, diz presidente da CUT

Fonte: Folha de S. Paulo



Em passeata realizada na manhã desta quinta-feira (11) na zona sul da capital paulista, os manifestantes repetiam gritos de guerra xingando a presidente Dilma. "Eu quero mandar aquele recadinho de novo para nossa querida Dilma", disse o diretor José Silva, incitando os trabalhadores a cantar 1,2,3, 4,5 mil, eu quero que a Dilma vá..."
 
Mais cedo, o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas, disse que as palavras de ordem estavam em acordo com as centrais sindicais e que não haveria xingamentos. "Não vai ter 'Fora Dilma'. Se Paulinho está falando em 'Fora Dilma', isso é coisa da cabeça dele. Não foi discutido entre as centrais sindicais", afirma Freitas.
 
Freitas também disse que é necessário que a presidente Dilma firme no seu mandato uma "grande conquista" para os trabalhadores. "Ela tem condições de fazer isso, a bola está quicando na área. [Para marcar o gol] é só acabar com o fator", afirma.
 
O fator previdenciário é um cálculo criado em 1999, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) que, segundo os sindicalistas, gera danos aos aposentados. Na prática, o seu fim elevaria o valor das aposentadorias.
 
Folha - Qual a reivindicação mais importante dos trabalhadores?
 
VAGNER FREITAS - Uma delas é o fator previdenciário. Nós já tínhamos pré-entendimento no governo do presidente Lula de que já havia a possibilidade de se atender as reivindicações porque no final das negociações, algumas centrais não concordaram com a proposta feita do fator 85/95 [o fator 85/95 concederia aposentadoria integral quando a soma da idade do segurado com seu tempo de contribuição fosse 85, para mulheres, e 95, para homens. O tempo mínimo de contribuição de 30 anos, para mulheres, e 35, para homens seria mantido].
 
Há estudos avançados no governo, do ponto de vista da questão financeira, que viabilizam isso. É algo que está quicando na área. A presidente pode fazer o gol, a bola está quicando e o goleiro está machucado.
 
É uma reivindicação ampla que dialoga e atende a toda a sociedade, a todos os trabalhadores de todas as faixas etárias e de todas as categorias.
 
Outro ponto importante é a redução da jornada de trabalho. Que seja discutida, negociada, feita de forma gradual, uma hora por ano, ano a ano. É uma bandeira de 30 anos, desde que a CUT existe. As outras questões da pauta também são relevantes, mas essas são as duas que elencaria como essenciais.
 
A central concorda que a defesa da reforma política seja defendida nas manifestações?
 
A reforma política faz parte das resoluções da CUT há dois congressos. No último, foi tirada uma resolução congressual e brigamos para que aconteça uma reforma política completa. Fizemos um seminário para debater exclusivamente esse tema. A proposta da CUT é anterior às manifestações e antes de a presidente ter abordado isso.
 
Já se falava de plebiscito, de constituinte específica e da reforma. A defesa das reformas política, agrária e tributária são resoluções do nosso congresso.
 
O que foi combinado entre as centrais nas reuniões de preparação das manifestações? Houve um acordo e alguém o descumpriu?
 
Haverá um comando único no ato, com representantes da CUT, da Força Sindical e de todas as centrais sindicais. Haverá faixa que balizará o ato, que será a principal. As palavras de ordem também serão em acordo entre as centrais sindicais. Não vai ter nada, no carro de som oficial da marcha, que não tenha sido discutido entre as centrais. Não vai ter "Fora Dilma". Se Paulinho está falando em "Fora Dilma", isso é coisa da cabeça dele. Não foi discutido entre as centrais sindicais.
 
É verdade também que não se chegou a um acordo de discutir a reforma política e o plebiscito como sendo um dos temas [da pauta do protesto] porque não houve consenso entre as centrais.
 
São os temas em comum, já entregues ao governo e que foram defendidos na marcha [feita pelas centrais em Brasília] no dia 6 de março. Lá apareceram faixas, durante a marcha, de "Volta, Lula" ou cartazes com dizeres de "Dilma, negocia". Achamos que foi uma expressão democrática da central que fez isso na época, que foram militantes da Força.
 
Não fizemos questionamento em relação a isso, nem teve discussão no carro de som na marcha sobre isso, porque não era consensual. Existem temas sindicais que nos identificam.
 
O que não pode é a CUT levar algum tipo de manifestação, de militantes da CUT, alguma faixa de "menos imposto para os pobres, mais imposto para os ricos", mas é uma discussão nossa. Ou colocar uma faixa com dizeres "reforma política já, todo poder emana do povo" essa é uma opinião da CUT em relação às discussões que estão sendo feitas.
 
Isso não vai aparecer nas palavras de ordem, nem no carro de som e não é em torno disso que nós nos mobilizamos. A pauta é em torno do fim do fator previdenciário, da redução da jornada e de outras questões.
 
Temos um acordo de pontos em comum para ser levado [às ruas]. Mas, às vezes, as centrais levam reivindicações que não estão nesse acordo. Mas não dá para impedir que militantes se manifestem. Isso está claro para todos.
 
A CUT entende que tem de ser colocado o debate da reforma política. Mas isso não vai constar no carro de som nem na faixa unificada porque não teve acordo entre as centrais.
 
Fizemos uma combinação com eles [representantes das demais centrais]. Houve uma reunião entre as centrais e foi acordado que não vai ter nem o "Fica, Dilma" nem o "Fora, Dilma" porque não é esse o objetivo das manifestações. Há um acordo entre a CUT e a Força Sindical que vamos falar sobre os direitos do trabalhador e que esse governo tem de atender as reivindicações dos trabalhadores.
 
Parar o transporte público e interditar estradas não são ações que se voltam contra o trabalhador?
 
Queremos que o trabalhador participe. A ação que virá da CUT é diretamente no local de trabalho, para que ele entenda nosso discurso e que se identifique conosco para dar a nossa pauta.
 
É isso que vamos fazer. Fazer um movimento longe dos trabalhadores você não cria um objetivo de fazer um sindicalismo de um "Dia Nacional de Luta" com uma relação direta com os trabalhadores.
 
A CUT vai estar presente nas fábricas, nos bancos, nas escolas, na roça, dialogando com o trabalhador.
 
O governo Dilma tem atendido ao movimento sindical?
 
O governo Dilma recebe o movimento sindical, negocia com ele, mas não atendeu a nenhuma das reivindicações até o momento. Queremos que atenda às reivindicações e não apenas nos receba.
 
Existe uma negociação em andamento, e vai haver outra no dia nos próximos dias. Mas, além de marcar calendário de negociação, é necessário que a presidente Dilma firme, no seu primeiro mandato, uma grande conquista para a classe trabalhadora. Ela tem condição de fazer isso com o fator previdenciário, por exemplo. Por isso que estamos fazendo a manifestação.
 
Já fizemos marcha, já entregamos pauta, que é negociada, mas não é atendida. Não podemos ficar olhando agora. Vamos fazer greves, manifestações, dia nacional de luta para nos atender.
 
Tem de colocar, por exemplo, em votação no Congresso Nacional, a jornada de trabalho. Tem de atender a classe trabalhadora que foi sustentação para a eleição do governo da presidente.
 
Quando ela teve um primeiro turno complicado, um segundo que virou um enorme preconceito contra a condição dela de militante, de mulher, foram esses trabalhadores e muitos desses sindicatos que foram às ruas para fazer a defesa dela. Agora tem de ter um resultado prático, não é possível que não se consiga uma ou duas reivindicações atendidas.
 
Esse é o momento, não dá para dizer que não tem recurso financeiro, diminua o superávit primário.
 
A central concorda com a orientação da política econômica?
 
A elevação da taxa Selic, com o argumento de conter a inflação, é um assassinato com o emprego e a produção no Brasil. A CUT nunca concordou com isso em nenhum governo. A alta de taxa de juros não significa remédio para combater pico inflacionário ou não.
 
Lamentavelmente, os rentistas e banqueiros estão saindo vitoriosos. Eles criaram uma onda inflacionária pura e simplesmente para que o governo alavancasse a taxa de juros para que eles possam ter lucros simples, como sempre tiveram.
 
Nós não concordamos com a posição do Copom (Comitê de Política Monetária), de maneira nenhuma. E achamos que esse tipo de postura – da condução da política econômica – achata a possibilidade de crescimento do Brasil, pois não dá condição ao setor produtivo de crescer e de se desenvolver.
 
Como não temos concordância com a política de crescimento do superavit primário – que se mostrou correta em um determinado tempo da conjuntura – agora que o Brasil precisa de investimento privado inclusive não vem, e o de fora está cada vez mais difícil, o governo tem de fazer investimento a partir de suas próprias pernas. Uma das formas de fazer é diminuir ou acabar momentaneamente com o superavit primário e investir esse recurso na produção.
 
Queremos que seja feito isso. Mas não pedir a cabeça de ninguém porque da mesma forma que Dilma não elege a executiva da CUT, nós achamos que governo tem de dialogar com a sociedade, ouvir e estar mais atento à sociedade, dos trabalhadores, dos empresários, dos intelectuais. Ser mais político e mais participativo.
 

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