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Porto de Santos pode virar um hub altamente competitivo

Fonte: Jornal Portuário
 
Evento da ACSP, com representantes do Ministério da Infraestrutura, debateu o potencial concentrador de contêineres do porto para reduzir custos e tempo de trânsito de mercadorias
 
 
Em fevereiro último, o Porto de Santos foi homologado pela Marinha do Brasil para receber navios de 366 metros, as maiores embarcações previstas para a Costa Leste da América do Sul.
 
Levando em conta essa ampliação da dragagem, atrelada ao fortalecimento da navegação de cabotagem, será possível ganhar mais escala nos terminais e no transporte marítimo – o que aumenta as expectativas de exportadores e importadores em reduzir o valor do frete e o tempo de trânsito das mercadorias.
 
A visão do Ministério de Infraestrutura (Minfra) sobre a transformação do porto em um hub de concentração de contêineres com alta competitividade foi assunto da última reunião virtual do Comitê dos Usuários de Portos e Aeroportos (Comus), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
 
Essa ‘conteinerização’ de cargas concentrada nos portos é uma tendência do comércio internacional puxada pelo aumento das embarcações e pela redução drástica dos custos, diz Dino Antunes Dias Batista, diretor do dept° de Navegação e Hidrovias da Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários do Minfra.
 
Esse movimento tem gerado a consolidação não só das empresas do setor marítimo, mas um processo que deu origem a um grande conglomerado de empresas de contêineres, afirma.
 
“No Brasil, os portos estão se preparando para isso, e Santos está na vanguarda desse processo ao receber embarcações com capacidade de 20 mil TEUs (um contêiner de 20 pés=1 TEU)”, explica Dias.
 
José Cândido Senna, coordenador do Comus, da ACSP, aponta números que mostram essa evolução do caráter concentrador do Porto de Santos. Entre janeiro de 2008 e janeiro de 2020, enquanto a movimentação de contêineres cheios aumentou 40,7%, as atracações de navios reduziram 37,8% nesse período.
 
Já a consignação média de contêineres por atracação teve uma alta significativa de 126% neste período. Os fluxos de cabotagem transbordados em Santos também aumentaram, de 21% para 52% em 2020, afirma.
 
Na pandemia, a prioridade tem sido garantir suprimentos porta a porta com redução permanente de custos, diz Senna. Os compradores também têm priorizado a proximidade dos estoques com mix just-in-case e just-in-time, e esse modelo tem sido fundamental para todos os níveis de gestão de importação e exportação.
 
“Esses dados lançam visões de que o hub está sendo consolidado. Possivelmente essas linhas alimentadoras têm dado ganhos de escala para a cabotagem, de forma que ela possa atrair mais cargas.”
 
Como o Brasil fica fora das principais e mais centrais rotas de comércio globais, essa nova característica de Santos tem ’empurrado’ as embarcações acima de 14 mil TEUs para cá, explica Batista, do Minfra.
 
“Consolidar cargas e diminuir frequências é fundamental para reduzir custos no comércio exterior, e um dos principais índices de comparação de eficiência dos paises do Relatório Doing Business (do Banco Mundial).”
 
Ainda que o governo não adote estratégias para escolher quais seriam os portos concentradores, o representante do Minfra acredita que haverá um processo natural do mercado para considerar os parâmetros locacionais desse hub. E Santos, em sua avaliação, estaria muitos passos à frente de outros portos no mercado brasileiro.
 
O motivo, explica, é que o porto paulista tem mais facilidade em recepcionar navios de maior calado, e um dos critérios de escolha, além da gestão, é a localização geográfica.
 
“Santos e Rio de Janeiro estão bem localizados, apesar de limitações, como dragagens de aprofundamento, manutenção e outras variáves que entrarão na conta para avaliar os principais concentradores do país.”
 
CONCORRÊNCIA
 
O processo de concentração exige do país preparo para distribuição de contêineres pelos clusters portuários da costa brasileira – e em consequência, mais eficiência na cabotagem, que deve ser impulsionada pelo PL 4199/2020, ou “BR do Mar”, que prevê fomento a esse tipo de navegação, lembrou Dino Batista, do Minfra.
 
Porém, o aumento de competitividade e melhoria da gestão portuária dependerá principalmente de dois movimentos: da ampliação das companhias docas, e da desestatização dos portos brasileiros.
 
Nesse último ponto, Santos também está alguns passos à frente desse processo, com expectativa de realização de audiências públicas em breve e abertura de licitação até o fim do ano, destaca Batista.
 
Dentro desses estudos, já está sendo considerado o trabalho necessário para ampliação do canal de acesso e, como Santos pode acolher navios maiores, atrair quem tem apetite por cargas maiores de concentração.
 
“Esta será uma ferramenta para melhoria da gestão, e vai possibilitar que Santos adote instrumentos para se tornar um dos principais portos do país”, afirma. “As condições já estão dadas, mas essa dinâmica de quem será o principal concentrador é o mercado que vai mostrar.”
 
Se sob a ótica do Minfra a ideia é observar o comportamento do mercado, Senna lembra que há uma proliferação de portos no Norte, Nordeste e no Sudeste que querem se transformar em concentradores.
 
Nesse contexto, a proposta do Comus é acompanhar o passo a passo para que Santos se consolide – além de avaliar em qual nível essa consolidação deixaria de ser interessante, explica.
 
Com essa concentração de contêineres em portos, que basicamente tem a ver com estoques no linguajar de comex, segundo Senna, o vendedor só se preocuparia com as vendas delivered, ou seja, entregues.
 
Portanto, assumir a liderança dessa logística, dessa operação porta a porta, pode gerar outras vantagens num momento pós-covid. “O exportador também poderá se beneficiar desse diferencial competitivo.”
 
Senna reforça que outros candidatos a hub aparecerão, mas quando e de que forma vai acontecer, ninguém sabe. Por isso, é preciso se preparar. “Vamos continuar a acompanhar e a discutir a evolução desse processo.”
 

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