Artigos e Entrevistas

Esse recorde é meu, mas esse é seu!

Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
 
A política do Governo Federal impulsionando os commodities fez com que o agronegócio alavancasse suas operações
 
 
O agronegócio e os investimentos feitos pelas empresas privadas levaram o Porto de Santos a bater recordes consecutivos de operação e movimentação. Isto ficou evidenciado nos últimos dois anos, mesmo havendo outros atores querendo tomar estes créditos para si.
 
A política do Governo Federal impulsionando os commodities fez com que o agronegócio alavancasse suas operações - e podemos combinar que a pandemia deu um empurrãozinho nisso também.
 
O completo preparo dos terminais privados fez com que toda a safra fosse escoada pelo Porto de Santos com eficiência, produtividade e agilidade.
 
Estes recordes foram muito disputados por outros que orbitam o agro e os terminais privados.
 
É claro que recordes positivos jamais ficariam órfãos, mas precisamos entender que existem outros recordes que não são tratados ou geridos e que impactam no desenvolvimento.
 
A ligação seca entre Santos e Guarujá é um grande recorde de atraso em nossa região, onde ao longo de décadas não conseguimos resolver esta questão. O acidente ocasionado no último domingo demonstra claramente a fragilidade em se colocar uma barreira no meio do canal, como uma ponte. Ficou claro que o projeto da ponte recebeu uma pá de cal.
 
Por sinal este não foi o primeiro acidente naquela localidade. Uma ligação submersa é a melhor alternativa, acompanhando o que os maiores e melhores portos do mundo vêm implementando.
 
Este recorde de atrasos e ineficiência esta completamente órfão, pois não percebemos um movimento concreto para resolver a questão. Quem sabe esse recorde seja transferido para a iniciativa privada na concessão ou privatização da autoridade portuária. Ficará a cargo dela, iniciativa privada, construir o túnel ou aumentar o recorde de tempo de não construir uma ligação seca entre as margens.
 
Um outro recorde que não conseguimos findar é a tão debatida dragagem de aprofundamento do canal. Estamos aptos a receber navios 366 mas ainda sofremos nas manobras com navios 330. O tão sonhado calado de 16 ou 17 metros até hoje não foi alcançado e nem mesmo sabemos se é possível. Um recorde de tempo e ineficiência do maior porto da América Latina.
 
Infraestrutura de acesso, ferrovia, qualificação de mão de obra, falta de empregos, relação do porto com a indústria são outros temas que não ganham a pauta, pois são espinhosos e demandam muito tempo e atenção?
 
O modelo atual foi acertado e contribui para o crescimento dos números em nosso País, mas existem efeitos colaterais que devem ser tratados para que assim possamos convergir para o tão sonhado desenvolvimento.
 
O dólar alto incentiva as exportações, mas vem gerando alta nos preços do mercado interno. Fomentar a indústria para que tenhamos produtos de alto valor agregado pode melhorar ainda mais os números e impulsionar o emprego em nossa região.
 
O Governo Federal criou a politica de forma acertada, o agronegócio atendeu as expectativas e os terminais foram eficientes de tal maneira que mesmo em meio a uma pandemia mundial ajudou o País a atingir recordes atrás de recordes.
 
Mas a sociedade pergunta insistentemente quem é o responsável por recordes de falta de empregos e de uma política de incentivo a indústria em nossa região. Talvez esse recorde que hoje não possui dono fique na conta da empresa ou grupo que assumirá o controle do Porto de Santos pós-privatização.
 
O nosso ídolo Ayrton Senna disse em certa oportunidade que na adversidade uns desistem enquanto outros batem recordes.
 
Será que desistimos de criar oportunidades e equacionar os problemas de décadas do maior complexo portuário da América Latina e estamos preocupados somente com os recordes?
 
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360º. Possui mais de 20 anos de experiência em tecnologia e automação portuária.
 

Imprimir Indicar Comentar

Comentários (0)

Compartilhe