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Superciclo de commodities e a logística brasileira

Fonte: A Tribuna On-line / Frederico Bussinger*
 
Mais e mais analistas falam de um novo superciclo de commodities
 
 
Soja e milho completaram onze meses de preços em alta: variações de 81% e 70%, em dólar. Açúcar e algodão, quase 60%. Os do minério de ferro quase triplicaram. Mais e mais analistas falam de um novo superciclo de commodities, tema na pauta de recente webinar do Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC).
 
Além dos preços, também as exportações batem recordes sobre recordes. A produção de grãos brasileira mais que duplicou desde 2009 (11 anos): de 108 para 227 Mt/a. Só que as exportações apenas do chamado “complexo soja/milho” triplicaram: 43 para 132 Mt/a. Há um detalhe, porém: no chamado Arco Norte (acima do Paralelo 16º), enquanto a produção triplicou (de 56 para 149 Mt/a), as exportações sextuplicaram: de 7 para 42 Mt/ano.
 
Para o minério de ferro, o resultado é menos vistoso: até 2007/08, Brasil e Austrália cresciam suas exportações a taxas equivalentes. Haviam alcançado cerca de 300 Mt/ano. De lá para cá, todavia, enquanto a Austrália as quadruplicou, as exportações brasileiras cresceram “apenas” 60%. Mas cresceram.
 
Há que se considerar, ainda, haver oferta reprimida: estima-se que o Centro-Oeste, em havendo logística adequada, poderia produzir mais de 40 a 60 Mt/ano. Isso, sem depender de desmatamentos. Ou seja: há demanda e há oferta. E entre uma e outra, há logística.
 
Nossa história e as estatísticas dos últimos anos nos mostram que não foi por falta dela que o Brasil deixou de aproveitar as oportunidades de exportação: a logística encontrou seus caminhos – como, no passado recente, foi o caso do uso do Rio Madeira para embarque em Itacoatiara-AM; do emergente polo logístico de Miritituba-PA; ou das “PPP caipira” no MT, que viabilizaram vários milhares de km de estradas vicinais para escoamento das safras. Interessante observar que nenhum desses casos, que mudaram e estão mudando a história da logística brasileira, partiu de um grande plano nacional!
 
Não seria assim exagero enxergar, na nossa história, íntima sinergia entre commodities e infraestrutura logística: uma ajudando a alavancar a outra.
 
Nosso desafio, pois, não é ter logística. Mas transitar de uma logística desbravadora (até heroica!), para uma planejada. De uma com impedâncias aqui e acolá (e não raro, surpresas), para uma logística mais articulada, mais fluida e previsível.
 
Para tanto, desejável que se tenha plano/programa para o Brasil que transcenda à infraestrutura: com claras definições de objetivos, estratégias e metas periódicas (monitoradas) para o trinômio que referencia a logística: tempo, custo e qualidade de serviço.
 
Investimentos, claro, são importantes. São necessários, mas não são suficientes. O imbróglio ferroviário na entrada do Porto de Santos, que pode limitar o alcance dos investimentos sendo feitos pelas concessionárias no Planalto, o demonstram.
 
Além dessas variáveis, que afetam diretamente a logística, sua infraestrutura (geralmente estruturante) tem pela frente mais dois desafios: i) ambiental: para além de impactos negativos (que, obviamente, precisam ser minimizados, mitigados e compensados), em muitos casos há falta de impactos positivos planejados. Na verdade, estes são a razão de ser de projetos infraestruturais; ii) de financiabilidade: investimentos normalmente bilionários, e de longo tempo de maturação, como esses, raramente são viabilizáveis apenas com receitas de serviços. Mormente os greenfields.
 
Em síntese, temos demanda e oferta potencial. Portanto, oportunidades. A logística tem se virado e, até agora, dado conta do recado.Mas podemos ser mais ágeis e eficientes. E há como.
 
*Frederico Bussinger, engenheiro, economista e consultor. Foi diretor do Metro/SP, Departamento Hidroviário (SP), e da Codesp. Também foi presidente da SPTrans, CPTM, Docas de São Sebastião e da Confea.
 

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