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Afinal, para onde cresce a movimentação portuária?

Fonte: Guia Marítimo / Leandro Barreto*
 
O fluxo de mercadorias pelo país vem crescendo e, com eles, os já tão conhecidos “gargalos logísticos”
 
Na semana passada, mencionamos nesta coluna que o comércio exterior brasileiro cresceu em termos de volume. Foram 6% no total, distribuídos em 11% de aumento nas exportações, compensados por 12% de queda nas importações do 1º semestre de 2016, segundo dados divulgados recentemente pela Secex/Aliceweb. Muito embora o ranking dos principais portos nacionais não tenha apresentado grandes alterações, os dados revelam importantes variações na performance de cada porto, seja em função da maior ou menor dependência das importações, ou do portfólio de mercadorias de suas respectivas áreas de influência.
 
De um modo geral, dos 5 maiores portos brasileiros, apenas Vitória reportou queda de volume, como reflexo direto da restrição judicial por danos ambientais imposta à operação de minério e carvão naquele porto em janeiro de 2016, que durou até junho.
 
Se, por um lado, minérios e combustíveis representaram 62% da movimentação portuária do Brasil no 1º semestre de 2016, por outro, o modelo de negócios dessas duas commodities demanda corredores logísticos eficientes e eficazes - em sua maioria próprios - e, portanto, não costumam contribuir para o chamado "gargalo logístico" brasileiro já que, em lugar do caminhão, utilizam majoritariamente ferrovias e dutovias para acessar ou sair dos portos.
 
Isso significa que nosso "gargalo logístico" é gerado por pouco mais de 1/3 da nossa movimentação portuária e, ao excluirmos “Minérios e Combustíveis” da análise, logo percebemos o expressivo crescimento de volume reportado por Santos e Paranaguá que, juntos, respondem por mais de 50% do restante das mercadorias movimentadas nos portos brasileiros: Grãos, Açúcar, Fertilizantes, Metais, Celulose, Carnes, etc.
 
Apesar dos Grãos e do Açúcar estarem cada dia mais utilizando o modal ferroviário, o "agendamento das carretas" para entrega da carga nos terminais, adotado nos últimos anos em Santos e Paranaguá, é o que tem dado certa sobrevida a esses complexos portuários.
 
 
Na tabela seguinte, foram selecionados os 25 maiores crescimentos de volume por grupo de commodity/porto. Além da enorme variação do crescimento absoluto de volume entre o primeiro e o vigésimo quinto colocados, chamam a atenção em termos proporcionais o crescimento de Papel e Celulose em Rio Grande e São Francisco, Grãos em Manaus (leia-se Itacoatiara) e Máquinas e Equipamentos em Pecém. Outra constatação importante é que o "Arco Norte", ainda de maneira tímida quando comparado a Santos e Paranaguá, continua crescendo (ex.: Barcarena).
 
 
Contudo, o que a análise dos dados demonstra de forma categórica é que as exportações de Grãos continuam crescendo de maneira acelerada e que, devido aos volumes envolvidos, é preciso que saiam do papel os projetos de ferrovias, sejam esses novos corredores logísticos ou expansão dos corredores atuais, que visam levar a Soja e o Milho do interior do país para os Portos. Caso contrário o "agendamento de carretas" não será suficiente para evitar longos congestionamentos nos acessos aos portos.
 
*Leandro Barreto
Administrador de empresas, especializado em economia internacional pela Universidade de Grenoble e em Inteligência Competitiva pela FEA/USP. Há mais de dez anos atuando no segmento, foi gerente de Inteligência de Mercado na Hamburg-Süd, professor pelo IBRAMERC e Diretor de Análises da Datamar Consulting. Atualmente, coordena projetos independentes de consultoria com forte atuação junto a armadores, autoridades portuárias, embarcadores e entidades públicas voltadas para o desenvolvimento do setor portuário.
 

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